O ex-primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, prenunciou esta segunda-feira um declínio da extrema-direita em Portugal à semelhança do que já aconteceu em Espanha, onde também cresceu inicialmente.
Em Espanha, a extrema-direita – chegou primeiro que em Portugal – está em declínio e vai ser assim também aqui”, afirmou Rodríguez Zapatero, orador convidado na conferência Next Left, promovida pelo Partido Socialista português, com o tema “Não passarão! O imperativo do combate aos extremismos da direita”, que decorreu esta segunda-feira em Lisboa.
O ex-chefe de governo espanhol disse que o momento de desigualdades que a extrema-direita aproveitou – crescendo primeiro nos Estados Unidos e depois espalhando-se, com a crise financeira de 2008 e depois com a crise da pandemia – mostra como o populismo e o extremismo crescem com o medo.
Referindo-se aos ex-Presidentes dos Estados Unidos e do Brasil, vaticinou que o Donald Trump “e o seu aluno destacado, [Jair] Bolsonaro, perderam e não vão voltar”, mas sublinhou que é preciso “prevenir e estar atento”.
Pediu, por isso, que seja afirmada “a condição de uma só humanidade”, mostrando-se contra a discriminação dos imigrantes e defendendo o direito à integração e aos direitos universais, porque é com “igualdade, paz, convivência, respeito, palavras que são os princípios da democracia” e ainda com “o combate pela cultura” que será possível “travar a extrema direita”.
Numa intervenção de mais de meia hora, na conferencia organizada em conjunto com a Fundação Europeia para os Estudos Progressistas (FEPS) e o Instituto Karl-Renner, Zapatero deixou três ideias de atuação, sendo a primeira “fortalecer a unidade das organizações progressistas do mundo, como a Internacional Socialista de Espanha e Portugal”.
Neste ponto, o também antigo líder do partido socialista espanhol (PSOE), desejou a realização de “uma grande cimeira” dos partidos de centro esquerda e também advogou que “há que dialogar com o centro-direita“, considerando isso “imprescindível”.
Zapatero considera que o uso das redes sociais fragmenta o diálogo, que “deveria ser cara a cara” e também defendeu que não é avisado “deixar-nos levar pelos discursos mais conservadores”.
Na segunda ideia que deixou a um plateia de algumas centenas de pessoas, o ex-primeiro-ministro de Espanha lembrou que as crises – financeira de 2008, pandemia, alterações climáticas – são globais e por isso é preciso “trabalhar como diz a Carta das Nações Unidas” quando refere “unir todas as nações”.
Não pode a Europa fechar-se”, afirmou, porque “se não houver cooperação não se superam as crises”.
“Cooperação, cooperação e cooperação, e não competição e confrontação“, sublinhou.
A terminar, Zapatero pediu que se olhe mais para as desigualdades, onde a extrema-direita se fortalece, e se promova o equilíbrio e “uma redistribuição mais justa”.
“Isso depende de nós, não depende da extrema-direita”, defendeu, recordando que o que aconteceu no pós-II Guerra Mundial foi essa redistribuição mais justa e que “essa foi a época em que mais progrediu a democracia e o socialismo”.