“Fui e continuarei ser um académico que de vez em quando dá uns pontapés na política”. Foi desta forma que David Justino, antigo ministro da Educação de Durão Barroso e vice-presidente do PSD durante a era Rui Rio, deu o mote para a sua última lição enquanto catedrático: uma reflexão sobre como os tempos de “incerteza” condicionam a política e como só a Educação permitirá responder à complexidade desta “nova era”.
Na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa, Maria e Aníbal Cavaco Silva, Mário Centeno, Rui Rio, Manuela Ferreira Leite, Nuno Crato, Pacheco Pereira, Carlos César, o ministro da Educação, João Costa, e muitas figuras que fizeram parte do rioísmo, David Justino dissertou sobre como a “peste, a fome e a guerra” que engoliram (outra vez) o ocidente estão a alimentar a “intolerância”, o “fanatismo”, a “radicalização”, o “extremismo” e o “populismo”.
Fenómenos, sublinhou David Justino, “explorados pelas forças da desilusão”, movidas à boleia da “crise de confiança nas instituições políticas”, do “mercado da segurança”, que faz com que abdiquemos “da nossa privacidade e da nossa liberdade” em nome do “desejo de não ser perturbado ou importunado”, e à boleia da “polarização política”.
Por tudo isto, insistiu David Justino, esta “é a altura de darmos palavra à Educação”. Socorrendo-se de uma reflexão de Aristóteles (“As raízes da Educação são amargas, mas os seus frutos são doces”), o antigo presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) alertou para se que se repensasse o papel do professor e da Escola enquanto elementos de coesão da sociedade.
Com João Costa na primeira fila — com quem Marcelo Rebelo de Sousa, também na primeira fila, falou durante largos minutos, David Justino insistiu na importância da valorização da dimensão humana na Educação. “Receio que ao adocicarmos as raízes venhamos a colher frutos errados”, alertou David Justino, defendendo que o professor não pode ser visto como um mero “animador da sala de aula” e que importa garantir a “dignificação da relação humana” entre professor e aluno e na comunidade escolar como um todo.
“Entendo a educação como uma instituição social com a função fundamental de transmitir o legado do passado às novas gerações. Torna-se para mim difícil entender que a educação não assente no conhecimento, na cultura, no esforço, no rigor, na exigência e na disciplina. O futuro da educação tem de passar pela valorização dessa relação humana. E há que garantir o presente antes de imaginar o futuro”, rematou o social-democrata
Ainda antes, na parte reservada aos agradecimentos, o antigo ministro agradeceu a Cavaco Silva, de quem foi consultor, o “curso intensivo de macroeconomia do conturbado ano de 1975”. Referiu-se também a Marcelo Rebelo de Sousa, por ter sido porta-voz para a Educação durante a liderança social-democrata do agora Presidente da República. “Abriu-me um caminho que nunca mais deixei de trilhar”, fez questão de sublinhar. Manuela Ferreira Leite mereceria igualmente uma palavra de David Justino. “Obrigado pela sua paciência em aturar os meus desvios mais esquerdistas.”