Foi uma das contratações do verão. Sébastien Haller, avançado de 28 anos que tinha sido um dos melhores marcadores da Liga dos Campeões, deixou o Ajax e reforçou o Borussia Dortmund para suprir a saída de Haaland para o Manchester City. Menos de duas semanas depois, saiu de um treino a sentir-se mal. Nesse mesmo dia, foi diagnosticado com um tumor maligno nos testículos.

“Nesse primeiro dia nem percebi bem que era cancro. Só me disseram que era um tumor e eu não sou médico, não sabia exatamente o que significava. Perguntei ao médico se era cancro e ele disse que sim. Claro que percebi logo que era algo muito sério, que muita coisa poderia mudar. Mas o urologista ajudou-me a não ficar assustado, disse-me que podia recuperar bem. Levei todas as palavras dele como garantidas”, recordou agora o costa-marfinense à BBC, numa entrevista publicada no dia em que vai voltar à Liga dos Campeões, nos oitavos de final, contra o Chelsea.

“A notícia que nos deixou em choque”: Haller brilhou na Champions, assinou pelo B. Dortmund e 12 dias depois foi diagnosticado com um tumor

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Haller foi submetido a duas cirurgias e fez quatro ciclos de quimioterapia. Voltou aos treinos em janeiro, estreou-se pelo Borussia Dortmund como substituto utilizado contra o Augsburgo e fez o primeiro golo pelos alemães no início de fevereiro e perante o Friburgo — curiosamente, a 4 de fevereiro, o Dia Mundial do Combate ao Cancro. À BBC, revelou o momento, em julho, em que contou à mulher (que estava de férias com os três filhos do casal) o que também tinha acabado de saber.

“Não havia tempo para ficar emotivo. Ela estava com os miúdos e eu tinha mais consultas. Tinha de ser direto. Disse-lhe para se sentar, que tinha uma coisa muito séria para lhe contar. Teve de ser rápido para ela poder processar. Infelizmente, é nessa posição que ficamos quando estamos casados com alguém. Temos de partilhar tudo, não podemos omitir algumas partes do problema”, explicou Haller.

O jogador de 28 anos, que antes de chegar ao Ajax passou pelo Utrecht, o Eintracht Frankfurt e o West Ham, não escondeu nenhum detalhe do processo de recuperação e foi partilhando, nas redes sociais, fotografias no hospital e nos tratamentos. Incluindo a partir do momento em que, devido à quimioterapia, perdeu o cabelo.

“As fotografias nas redes sociais refletiram muito bem o que se estava a passar. Se estivesse sozinho, só com a minha mulher, talvez tivesse sido diferente. Mas quando temos filhos não temos tempo para ser pessimistas, porque eles precisam de nós. Independentemente do que estiver a acontecer, temos de lhes mostrar que está tudo bem. Claro que há momentos maus mas nem acho que tenha sido quem sofreu mais. Mesmo que emocionalmente não tenha sido fácil, porque estava doente, toda a atenção estava virada para mim, não para as outras pessoas. Não para as pessoas da minha família, que também estavam a sofrer. Ninguém se preocupa com as outras pessoas e isso é um grande problema. Foi muito complicado para eles. Os meus filhos viram a minha cara mudar”, acrescentou Haller, que realizou praticamente toda a formação nos franceses do Auxerre.

Duas cirurgias, quatro rondas de quimioterapia, o regresso aos relvados: os longos seis meses de Haller tiveram um final feliz

Ainda assim, o avançado costa-marfinense garante que nunca duvidou de que ia voltar aos relvados. “Pensei muito no Borussia Dortmund, pensava que tinham comprado um jogador e que, ao fim de duas semanas, esse jogador não podia jogar durante sei lá quanto tempo. Que mau negócio. Claro que queria voltar e retribuir o apoio que me deram, isso era muito importante para mim. Eles apoiaram-me antes de eu conseguir dar-lhes alguma coisa. Estava doente e eles apoiaram-me. Mas eu sempre soube que ia conseguir. Grande parte da recuperação foi mental e a segunda cirurgia tornou esse lado um bocadinho mais difícil, mas eu sabia que ia voltar”, termina Haller.