Um ano após o início do conflito, a “Ucrânia está mais forte e segura de si própria”, a “Nato foi reforçada”, nomeadamente através dos pedidos de adesão de Suécia e Finlândia, e “todos os objetivos” do Presidente russo “têm sido contrariados na prática” — o que não significa que isso faça com que um acordo de paz seja mais tangível, bem pelo contrário, considera José Manuel Durão Barroso.
“Não estou a ver Putin a aceitar que todo o esforço que a Rússia fez tenha sido para nada”, disse esta tarde, em entrevista exclusiva à Rádio Observador, o antigo Presidente da Comissão Europeia, que também não acredita que a Ucrânia esteja disposta a ceder território para “acalmar” as hostes de Moscovo.
Considerando que “o assunto vai ser muito decidido em termos da relação de forças no terreno”, o “impasse”, uma situação de “nem guerra, nem paz”, como na Coreia do Norte e na Coreia do Sul, será, na opinião de Durão Barroso, a hipótese mais provável. “Não sei se há solução para esta guerra.”
Desvalorizando o facto de o décimo pacote de sanções da União Europeia contra a Rússia não ter sido aprovado a tempo deste que é o primeiro aniversário da guerra na Ucrânia, Durão Barroso mostrou-se pessimista e admitiu não vislumbrar sequer a possibilidade de conversações de paz no horizonte.
Durão Barroso e a guerra. “Solução? Talvez como nas Coreias”
“As sanções são mais um sinal do que algo que, por si só, vá resolver o assunto, sobretudo quando está em causa algo tão importante como a guerra. As sanções são uma medida para por um custo nas ações do agressor, digamos assim. Pessoalmente nunca tive grandes ilusões quanto ao efeito das sanções, mas era necessário passar por essa fase“, reconheceu o atual Presidente não-executivo do Goldman Sachs International.
“Vai haver uma situação dificílima durante muito tempo porque não há um compromisso à vista”, vaticinou depois. “Se é essencial para a Ucrânia, porque tem de defender a sua soberania e a sua integridade territorial, Putin também está a jogar todo o seu futuro político, e se calhar até a sua própria vida, nesta guerra. E esta é a razão pela qual não estou a ver, infelizmente, uma solução no curto, nem se calhar no médio prazo.”
Questionado sobre até onde o Presidente russo poderá ir, Durão Barroso também não se socorreu de eufemismos. “Putin está a jogar tudo o que pode, e vai continuar a jogar, na permanência desta guerra”, considerou o antigo presidente da Comissão Europeia, explicando que, ao contrário do que acontece com a Federação Russa, para quem o conflito em curso não é “uma guerra existencial”, para Putin a guerra — ou a vitória na guerra — é uma questão de vida ou morte (política e de facto).