Podem as gruas logísticas ser “a nova Huawei”? As autoridades norte-americanas suspeitam que as gruas (fabricadas na China) que equipam portos espalhados pelos EUA possam ser ferramentas de espionagem ao serviço do regime de Xi Jinping. Segundo o The Wall Street Journal (WSJ), estas gruas até estão em portos que são usados pelas forças armadas norte-americanas, o que leva alguns responsáveis a vê-las como “cavalos de Troia” que podem ser usados para espionagem ou sabotagem. “Paranoia“, dizem os chineses.

As gruas em causa, usadas no transporte de contentores entre os navios e o porto, são fabricadas pela empresa chinesa ZPMC. Explica o WSJ que, embora tenham qualidade de construção e preço competitivo, estão equipadas com sensores sofisticados capazes de registar e monitorizar a proveniência e destino dos contentores. A suspeita é que esses sensores funcionem como ferramentas de espionagem, “nas barbas” dos norte-americanos.

“As gruas podem ser a nova Huawei”, afirmou Bill Evanina, antigo membro destacado dos serviços de informação dos EUA. Essa é uma alusão à gigante de telecomunicações chinesa que está banida nos EUA, por receios de que a informação recolhida nos EUA pudesse estar a ser enviada para a China. As gruas são “uma junção perfeita entre um negócio legítimo e, ao mesmo tempo, uma ferramenta clandestina de recolha de informação”, diz o especialista, ao jornal norte-americano.

O receio, em concreto, é que através da informação recolhida pelos tais sensores, as gruas possam partilhar com o regime chinês registos sobre que bens estão a ser transportados de onde e para onde. Se alguém tiver a intenção, no futuro, de criar perturbações nas cadeias globais de abastecimento, essa informação seria útil. Pior: nos casos em que estas gruas estão em portos onde se abastecem navios militares, isso pode dar à China informação importante sobre as operações dos EUA no mundo.

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Mas a China diz que estas são suposições “baseadas em paranoia”. Uma fonte da embaixada chinesa nos EUA diz que o noticiado receio norte-americano quanto às gruas usadas nos portos logísticos são uma tentativa “irresponsável” de injuriar a China e perturbar as relações comerciais entre os dois países. Algo que, avisa a embaixada chinesa, “acabará por virar-se contra os próprios EUA”.

A polémica surge depois da crise causada pelos balões chineses, que geraram uma disputa diplomática que até levou o secretário de Estado, Antony Blinken, a adiar uma visita a Beijing. A China, que garante que eram dispositivos meteorológicos, terá lançado “no decurso dos últimos anos” uma “frota de balões destinados a operações de espionagem” em todo o mundo, disseram os EUA a 6 de fevereiro.

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