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“Um inferno”. É com estas palavras que o comandante ucraniano Volodymyr Nazarenko descreve a situação que se vive na cidade de Bakhmut nas últimas semanas. Outrora descrita pelo Presidente Volodymyr Zelensky como uma “fortaleza” de resistência, a cidade, na região de Donetsk, é palco de intensos combates há vários meses, com as forças russas e ucranianas a admitirem dificuldades no decorrer das operações.
“A situação em Bakhmut e nos arredores é um inferno completo, tal como é em toda a frente no leste”, reconheceu Nazarenko num vídeo publicado na conta de Telegram e citado pela agência Reuters. Os combates nessa direção têm vindo a intensificar-se ao longo dos últimos dias, com informações contraditórias a circular — na sexta-feira o grupo de mercenários Wagner chegou a garantir ter “praticamente cercado” a cidade.
Líder dos mercenários russos Wagner admite que Kiev vai lutar por Bakhmut “até ao fim”
Enquanto as autoridades ucranianas se fecham em copas quantos às baixas registadas em Bakhmut, os militares no terreno descrevem situações difíceis e perdas elevadas. “O batalhão chegou em meados de dezembro e entre todas as unidades éramos 500. Há cerca de um mês apenas restavam 150“, revelou ao Kyiv Independent um médico de combate identificado como Borys, que está a participar nas operações ucranianas em Bakhmut.
Ao jornal ucraniano vários militares que combatem na região revelaram sentir-se desprotegidos, descrevendo unidades que chegam mal preparadas e sem equipamento suficiente para enfrentar as forças russas. “Fui até uma posição três vezes e enviaram comigo seis pessoas que nunca tinham lutado antes. Tínhamos mortos e também feridos para retirar … As nossas pessoas não estão a ser protegidas“, sublinhou. “Não temos nenhum apoio”, lamentou também um soldado chamado Serhiy.
O relato é reforçado pelo testemunho de Oleksandr, um militar da região de Sumy que também está a combater em Bakhmut. Embora garanta que alguns batalhões estão bem treinados, reconhece que muitos são atirados para o conflito sem grande preparação. Além dos confrontos com as forças russas tradicionais, os ucranianos também defrontam os combatentes do grupo paramilitar Wagner, que ganhou um papel significativo durante uma campanha marcada por relatos de brutalidade.
Há [combatentes] do grupo Wagner e duas brigadas aéreas. É difícil. Há ondas constantes, imparáveis”, resume Oleksandr sobre a situação que o seu batalhão enfrenta em Bakhmut.
Os militares criticam a falta de equipamentos que têm ao seu dispor — desde artilharia a drones de reconhecimento e veículos blindados –, denunciando estar sob os ataques de armas russos durante horas ou mesmo dias. A falta de coordenação foi também uma das críticas que deixaram.
Em Bakhmut vive-se um braço de ferro, com ucranianos e russos determinados a alcançar uma vitória significativa, que no caso de Moscovo seria a primeira em vários meses. Esta segunda-feira Presidente ucraniano reuniu-se com os comandantes-chefe das Forças Armadas, que se “manifestaram a favor da continuação da operação defensiva e do reforço das posições em Bakhmut”.
O líder o grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, reconheceu esta segunda-feira que os ucranianos vão lutar “até ao fim” pelo controlo de Bakhmut. Mas também os seus combatentes devem levar em frente o seu trabalho até ao fim, necessitando para isso de mais apoio do comando militar russo — uma das principais críticas que tem deixado a Moscovo.
Kiev já admitiu uma possível retirada, mas garante que para já não avançou nesse sentido. Sobre o mais intenso ponto de combate na guerra os Estados Unidos, um dos principais aliados da Ucrânia, consideram que a importância de Bakhmut é mais simbólica do que estratégica.