Milos tem 54 anos e trocou a Gran Canária pela guerra na Ucrânia. Começou dar o seu apoio neste conflito através da ajuda humanitária, mas agora está na linha da frente na cidade de Bakhmut. Foi de lá que deu o seu testemunho ao El País. “Nós matamos todos os russos que podemos” e, se não houver mais nada, “matas com um sapato”.

Milos chegou à fronteira da Ucrânia com a Polónia há cerca de um ano para reforçar a ajuda humanitária na guerra. Não tinha experiência militar, mas hoje está na frente de batalha na cidade ucraniana de Bakhmut, um cenário bem diferente da ilha espanhola, onde ficaram a mulher e a filha. Não revela ao jornal espanhol informação sobre o seu salário, mas afirma que, ao contrário dos soldados ucranianos, como é estrangeiro pode acabar com o contrato quando quiser.

A luta por Bakhmut, na região de Donetsk, dura há oito meses e conta com milhares de soldados de ambos os lados. Milos diz que “em Bakhmut trabalha-se casa a casa” e que, por vezes, os russos vão às posições dos ucranianos e também se luta “corpo a corpo”.

Quando as armas de fogo não são suficientes “sacas de tudo o que tens: uma faca, uma pá”, conta. “Tudo é importante para salvar a tua vida. Quando não tens nada, sacas de um sapato e matas com um sapato, porque a minha vida é melhor do que a deles.”

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Ao contrário de Mariupol ou Kerson, por exemplo, Bakhmut não é um local estratégico, mas o soldado explica que o seu papel ali é fazer baixas do lado russo. “Não é um sítio estratégico, não é nada. Mas nós matamos todos os russos que podemos, porque se os matamos em Bakhmut, já não podem atacar noutros sítios. É assim que pensam os nossos chefes.” Dá conta que morrem todos os dias, pelo menos, 800 soldados russos, mas afirma que também se perdem muitas vidas do lado ucraniano.

Há umas semanas, o colete à prova de bala salvou-o de um projétil, mas deixou-lhe costelas partidas. “Quando me atingiu, foi como um coice de um cavalo e partiu-me duas costelas”, conta Milos. “Na frente, não há momentos bons, só maus. Nunca se sabe.”

O soldado falou também ao jornal espanhol sobre o grupo Wagner para afirmar que, na primeira linha estão “prisioneiros que não têm outra opção” e “quando eles querem voltar para trás, são mortos por um segundo grupo Wagner”. “São carne morta”, afirma Milos e explica que quando um russo tem três riscas brancas no braço, “significa que não vai vir nenhum médico para salvar-lhe a vida”.

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