A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) exigiu esta quarta-feira respeito ao ministro da Saúde, acusando-o de ter empurrado os médicos para a greve por “falta de respostas” à revisão das grelhas salariais ou à melhoria as condições de trabalho.

“Exigimos respeito e exigimos que o senhor ministro nos ouça. Ouça os médicos senhor ministro. Ouça os médicos e faça o que puder para que os médicos fiquem no Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, disse a presidente da FNAM, Joana Bordalo e Sá.

Em frente ao Hospital de São João, no Porto, onde realizou uma conferência de imprensa que antecede a partida em autocarro para Lisboa, onde, à tarde, médicos de todo o país se vão concentrar em protesto, Joana Bordalo e Sá acusou Manuel Pizarro de ter “empurrado” a FNAM para esta greve, a primeira convocada pela federação no pós-pandemia.

“A FNAM infelizmente foi empurrada para tomar esta medida, uma medida drástica, porque não temos tido qualquer tipo de resposta por parte do Ministério da Saúde. É necessário que as grelhas salariais sejam revistas e que sejam estabelecidas condições dignas de trabalho”, disse a presidente.

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Os médicos iniciam esta quarta-feira uma greve de dois dias, numa altura em que sindicatos e Governo estão em negociações, mas ainda sem acordo após várias reuniões inconclusivas.

Médicos iniciam esta quarta-feira dois dias de greve

Esta greve foi convocada pelos sindicatos que integram a FNAM, que marcou também para hoje uma concentração junto ao Ministério da Saúde, em Lisboa, mas não conta com o apoio do Sindicato Independente do Médicos (SIM), que se demarcou do protesto, alegando que não se justifica enquanto decorrem negociações com o Governo.

O protocolo negocial estabelecido entre as duas partes prevê que as negociações decorram até junho, mas os dois sindicatos têm exigido medidas estruturais urgentes e melhores condições de trabalho para permitir fixar e captar mais médicos para o SNS.

Joana Bordalo e Sá frisou que esta greve “é de e para todos os médicos” e garantiu que a FNAM “vai fazer valer a sua voz” e “não vai desistir enquanto Manuel Pizarro não a ouvir” porque, frisou a dirigente, “há médicos cansados, médicos exaustos, médicos a meter baixa e a fugir do SNS”.

“O que estamos a assistir todos os dias é à saída de profissionais do SNS. Todos, todos os dias saem colegas. É por isso que os serviços se encerram. É por isso que é preciso reorganizar urgências: porque não há médicos suficientes para as assegurar. Temos um milhão e meio de cidadãos em Portugal que não têm médico de família”, descreveu.

A FNAM desafiou o ministro da Saúde a “aproveitar a semana para refletir”, exigiu “um sinal de que as coisas vão mudar” e garantiu que rejeitará sempre “propostas indecentes que acarretem perda de direitos para os médicos”.

Confrontada com as perturbações que a greve significa para os doentes, Joana Bordalo e Sá sublinhou que “os serviços mínimos estão garantidos e vão ser cumpridos” e pediu desculpa aos utentes.

“Certamente haverá perturbação e transtorno e pedimos desculpa aos nossos utentes por isso. No entanto com certeza que vão perceber e estar solidários connosco, uma vez que esta luta também é para eles, para que haja médicos no SNS”, concluiu.

Entre as reivindicações da FNAM consta a renegociação da carreira médica e da respetiva grelha salarial, que inclua um horário base de 35 horas, a dedicação exclusiva opcional e majorada e a consideração do internato médico como primeiro grau da carreira.

A estrutura sindical pretende também a revisão das normas de organização e disciplina do trabalho médico, a reposição dos 25 dias úteis de férias por ano e dos cinco dias suplementares, quando forem gozados fora da época alta, assim como a redução do tempo normal de trabalho no serviço de urgência das 18 para as 12 horas.

Em fevereiro, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, reconheceu que a greve dos médicos o preocupa, mas disse que o Governo continuará a negociar de “boa-fé” e “tranquilamente” com os dois sindicatos.