Vestidos à paisana, sem coletes ou qualquer identificação visível, percorrem os corredores como “clientes normais”. Olham para as prateleiras, para a forma como os produtos estão distribuídos, e veem os preços. Conferem-nos com as etiquetas afixadas. Discretamente tiram notas e fotografias.

“Em que posso ajudar?”, questiona o gerente da loja desconfiado com as anotações. A equipa de quatro inspetores da ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica ) acaba por identificar-se. A vistoria prossegue. O encontro com o gerente de loja, no final das compras, para verificação dos produtos é combinado. Mas até aqui “tudo certo”, sossega.

O supermercado, na área da grande Lisboa (que não pode ser identificado), é visto de alto a baixo. A equipa da ASAE continua o trabalho, prestando especial atenção a cada promoção. Ana Moura, inspetora e diretora da ASAE, explica à Rádio Observador que são um típico exemplo onde as pessoas podem ser induzidas em erro.

Os bastidores de uma fiscalização da ASAE num supermercado em Lisboa

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“Na caixa por vezes não são efetivadas [as promoções] mas na exposição ao consumidor pode dar a ideia de que há ali uma promoção interessante e que depois se não tiverem o cuidado de confirmar no talão da caixa a sua aplicação podem sair lesados”, explica a mesma responsável.

Outro exemplo está no peso. Nos produtos pré-embalados “o peso da embalagem (do produto que está contido na embalagem) não corresponde ao peso do artigo mas é apurado o valor total dessa embalagem”. 230 gramas? “Não está bem”. A tudo isto a ASAE vai estando atenta. O Governo anunciou esta quinta-feira a intensificação das fiscalizações da ASAE aos preços dos supermercados.

Distribuição sob pressão máxima do Governo por causa de preço dos alimentos. Medidas de outros países estão a ser estudadas

De carrinho cheio, a equipa dirige-se à caixa de pagamento. Fazem-se as pesagens, comparam-se os preços das etiquetas com o dos talões e tiram-se conclusões. Oito referências apreendidas. “Constatou-se que não cumprem com os requisitos para a sua exposição para a venda ao público”. Queijos e um frasco de molho em que “a placa da identificação não está bem: a indicação do peso por cada uma das unidades é inexistente. Não existe informação relativa ao preço dos artigos por quilo. Uma informação que não pode ser negada aos consumidores porque os impossibilita de fazerem escolhas conscientes e acertadas.”

É ao gerente de loja que é dada a informação de que “vão ser apreendidos para regularização da situação, quer da etiquetagem que está na loja quer aos próprios artigos que não têm o preço unitário”. “Saem das prateleiras até que os erros sejam corrigidos”, sentenciam os inspetores da ASAE. Voltam a passar pelo leitor da caixa “para que sejam devolvidos às respetivas secções”. De resto, está “tudo bem”, finaliza Ana Moura, já devidamente identificada, e assumindo o objetivo de toda esta vistoria: proteger o “bolso dos consumidores”.