Depois de um fim de semana de caos nos programas de desporto da BBC, com apresentadores, comentadores e especialistas a recusarem ir para o ar, em solidariedade com Gary Lineker, o ex-futebolista e histórico apresentador de Match of The Day (MOTD), afastado por quebra da política da empresa para as redes sociais, tudo aponta para que a normalidade (possível) seja retomada nas próximas 24 horas.

Segundo a imprensa britânica, o acordo entre a administração da BBC e Lineker estará por horas. Tudo aponta, diz o Telegraph, para que a estação dê um passo atrás, anuncie que está a rever as diretrizes internas para o uso das redes sociais, e permita o regresso do apresentador já no próximo sábado.

O ex-jogador, de 62 anos, que passou todo o fim de semana em silêncio e não fez qualquer publicação no Twitter, contra o que é habitual, também deverá fazer um pedido de desculpas público.

De acordo com fontes da própria BBC, apesar de as negociações “estarem a evoluir na direção certa”, nem todas as questões estão já “totalmente resolvidas”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Vendaval Lineker põe em xeque liderança da BBC

Recorde-se que na origem da controvérsia, que levou ao colapso inesperado da emissão desportiva da televisão britânica este fim de semana, esteve um tweet de Lineker, que criticou a nova política de imigração anunciada pelo governo de Rishi Sunak e a comparou às implementadas pela Alemanha nazi. “Esta é uma política imensamente cruel dirigida às pessoas mais vulneráveis numa linguagem que não é diferente da utilizada pela Alemanha nos anos 30”, escreveu o antigo desportista.

Tendo em conta o colapso inesperado na emissão  — o MOTD, um dos programas mais antigos da estação, emitido desde agosto de 1964, foi para o ar este fim de semana sem música de genérico, apresentador, comentários, análises ou entrevistas, apenas com resumos de jogos, e não foi além dos 14 minutos de duração no domingo, depois de no sábado ter tido apenas 20 —, a administração da BBC não terá tido outra hipótese se não recuar.

Tim Davie, o diretor-geral, que estava em Washington quando a polémica estalou e teve de antecipar o regresso, viu-se mesmo na obrigação de pedir desculpa aos subscritores, por este fim de semana não terem tido acesso aos conteúdos por que pagaram. Apesar de tudo, escreve a própria BBC esta segunda-feira, as audiências do programa subiram meio milhão, para os 2,58 milhões.

“Ambos os lados têm estado a trabalhar em algo que satisfaça as preocupações da BBC e permita a Gary voltar ao ar”, disse uma fonte próxima ao Telegraph. “As coisas estão a ir na direção certa.”

George, um dos quatro filhos do ex-futebolista, que também recusou prestar declarações aos jornalistas concentrados à porta de sua casa, garantiu este fim de semana ao Mirror que o pai “irá sempre falar pelas pessoas que não têm voz”.

Depois de explicar que Lineker foi afastado da apresentação do programa por se ter recusado a pedir desculpa, George Lineker revelou ainda que o pai chegou a acolher em tempos dois refugiados, com quem continua a manter contacto. E disse que sim, que acredita que o pai vai voltar a apresentar o programa que adora — “Mas que nunca vai voltar atrás na sua palavra”.

Entretanto, foram muitas as vozes, fora da BBC, que se levantaram para apoiar Lineker. A de Sadiq Khan, o mayor de Londres, foi uma delas: “É correto e apropriado que Gary Lineker possa partilhar livremente a sua opinião sobre as políticas do governo, particularmente quando essas políticas são impraticáveis e imorais”.

Numa atuação este sábado em Manchester, o produtor e DJ Fatboy Slim também aproveitou para se mostrar solidário e incluiu uma fotografia do apresentador no ecrã gigante em palco. Quando o sorridente Gary Lineker surgiu na imagem, Fatboy Slim aplaudiu efusivamente. O público presente também.

Por outro lado, vários deputados conservadores dizem que, se a BBC ceder, a sua imparcialidade estará em causa. “É evidente que Gary Lineker infringiu as regras de imparcialidade. Se ele voltar, precisamos de ter confiança de que não o voltará a fazer. Os seus comentários não só foram grosseiramente ofensivos, erróneos e insensatos, como demonstraram uma completa falta de arrependimento e contrição. Ele pensa que pode agir com impunidade”, disse ao Telegraph Tom Hunt, deputado conservador por Ipswich.

“Precisamos de um pedido de desculpas dele sobre os comentários que fez e depois precisamos de ter detalhes sobre o que está a ser posto em prática para impedir que isto aconteça no futuro. Se estas duas coisas não forem ambas abordadas, tenho preocupações sobre a imparcialidade da BBC e sobre o que isto significa para o organismo de radiodifusão.”

Gary Lineker suspenso da BBC por suposta quebra de imparcialidade. Comentador criticou lei da imigração de Sunak