A TAP comunicou à Airbus, em janeiro, que os custos dos aviões contratados ao fabricante europeu eram muito altos, revelou o administrador financeiro da transportadora. Gonçalo Pires confirma informação já vinda a público, de que um estudo feito por consultores independentes aponta para um peso de 14% nas receitas dos custos de compra e financiamento da nova frota em 2022, o que “não compara bem com outras companhias aéreas”. E essa “desvantagem competitiva” é atribuída à renegociação de frota conduzida pelo acionista privado David Neeleman no quadro da privatização da TAP em 2015.
O CFO está a responder aos deputados da comissão parlamentar de inquérito à gestão pública da TAP. Em esclarecimentos ao deputado do PCP, Bruno Dias, o gestor explicou que grande parte da dívida da TAP está associada à compra dos aviões e que o plano de reestruturação obrigou a empresa a renegociar com todos os fornecedores e todos os os contratados. Um princípio, defendeu, que se aplica a pequenos e grandes fornecedores. “Quem trabalha com a TAP tem de perceber que deve fazer um esforço”. Foi nesse quadro que foi feita a abordagem à Airbus, referindo também a dimensão do contrato da TAP (que é superior às necessidades atuais da empresa) e a necessidade de cumprir a desalavangem (redução de dívida) associada à compra dos aviões. “Se os aviões fora caros antes, continuam a ser mais caros hoje”.
Mas a Airbus é um parceiro estratégico da TAP, fornece toda a frota e peças para a manutenção. “E não é fácil negociar com a Airbus, porque respeitamos todos os contratos assinados”. E apesar de ser “quase impossível alterar um contrato de financiamento”, a responsabilidade da TAP é conseguir junto dos nossos fornecedores esse esforço, argumentando que vai crescer e que vão ser parceiros privilegiados, mas precisamos de condições melhores para assegurar que estaremos cá no futuro”.
O gestor confirmou também que da renegociação da frota da TAP em 2015, com a troca dos aviões A350 por A330, a Airbus libertou um crédito a favor da holding de David Neeleman criada para comprar a transportadora portuguesa e que esses fundos foram mobilizados pelo empresário americano para a capitalização da companhia.
Apesar de ser uma desvantagem competitiva ao nível dos custos, Gonçalo Pires admite que também há vantagens. A dimensão da frota permite mais atividade para aproveitar a retoma do setor e o facto de ser uma das mais novas é um atrativo para um comprador. E há vantagens operacionais porque reduz a fatura com combustíveis, diz.
O administrador financeiro da TAP revelou ainda que a empresa já remeteu ao Tribunal de Contas 24 contratos de despesa para visto prévio depois de ter sido alertada para essa obrigação como empresa pública. Gonçalo Pires lembra que a TAP era privada desde 2015 e que muitas das pessoas que estavam na empresa até essa data já saíram, levando com elas a memória da TAP pública.