O gabinete de Fernando Medina não foi convocado para a reunião secreta com Christine Ourmières-Widener organizada por João Galamba na véspera da ida ao Parlamento da ainda CEO da TAP para ser ouvida na Comissão de Economia, a 18 de janeiro. Isto apesar de o Ministério das Finanças ter também a tutela da companhia aérea e de o encontro, realizado por videoconferência, ter contado com elementos dos Ministérios das Infraestruturas, Assuntos Parlamentares e também com o deputado socialista Carlos Pereira.

De acordo com o que o Observador apurou, não existiu qualquer diligência no sentido de incluir Fernando Medina ou elementos do Ministério das Finanças na reunião que, segundo as palavras de Christine Ourmières-Widener, foi recomendada pelo Ministério das Infraestruturas, não tendo esclarecido se partiu de Pedro Nuno Santos ou já de João Galamba, que à altura dos factos já era ministro das Infraestruturas.

De qualquer forma, o ‘ok’ final para a reunião terá de ter partido já de João Galamba, uma vez que o requerimento para a audição da ainda presidente executiva da TAP foi entregue a 9 de janeiro e marcado a 12 e o ministro tomou posse logo no dia 4 desse mês.

Apesar de ter sido recomendada pelas Infraestruturas, que se fez representar por vários elementos, o convite para a reunião foi enviado por uma adjunta de Ana Catarina Mendes, ministra dos Assuntos Parlamentares. Também João Bezerra, chefe de gabinete da ministra, estava na lista de convidados para o encontro.

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Carlos Pereira, deputado socialista e coordenador parlamentar do PS para a área da Economia — com assento na comissão de inquérito à TAP –, também esteve presente. E não só: Cátia Rosas, vereadora na Câmara Municipal de Lisboa e técnica especialista no gabinete de João Galamba.

A existência desta reunião só foi revelada esta terça-feira, durante a audição da ainda CEO da TAP. Nessa sequência, os partidos da oposição, nomeadamente PSD, Chega e Iniciativa Liberal, acusaram Governo e PS de terem protagonizado uma violação clara do princípio da separação de poderes e de terem tentado condicionar Christine Ourmières-Widener, que no dia seguinte, a 18 de janeiro, iria falar pela primeira vez sobre o caso TAP na comissão parlamentar de Economia.

À saída da comissão parlamentar de inquérito, o socialista Carlos Pereira rejeitou a existência de qualquer combinação com Christine Ourmières-Widener e relativizou o caso. “Eu faço ‘n’ reuniões antes, depois, com várias instituições, é isso que os partidos da Assembleia fazem. Partilham informação para poderem fazer melhor o seu escrutínio”, disse.

Ainda assim, Carlos Pereira recusou revelar quem tinha organizado a reunião e quem tinha pediu a sua presença no encontro com a ainda CEO da TAP. Sobre a origem do convite, o deputado limitou-se a dizer: “Veio da secretária, que convida. Secretária de quem? A minha secretária”, despachou.

Carlos Pereira, coordenador do PS na comissão da TAP, esteve reunido com CEO na véspera da audição parlamentar de janeiro

Finanças já tinham ficado de fora no passado

Tal como explicava aqui o Observador, a ainda presidente executiva da TAP chegou a ser repreendida por Hugo Mendes, então secretário de Estado das Infraestruturas, por abordar outros Ministérios que não o das Infraestruturas. Christine Ourmières-Widener foi mesmo avisada de que não devia comunicar ou contactar com outras áreas do Governo para além do gabinete comandado à época por Pedro Nuno Santos que tinha o pelouro operacional da empresa.

Nessa altura, o braço de direito de Pedro Nuno Santos enviou uma mensagem clara. “Christine, outra vez: TODAS as questões relacionadas com o Governo devem ser encaminhadas através de nós. Isto já aconteceu tantas vezes que já não sabemos o que dizer. A TAP é a única empresa que se comporta assim. O MIH (Ministério das Infraestruturas e Habitação) é a única porta de entrada no Governo. Não há ligações diretas entre a TAP e outros ministérios”, escreveu o ex-governante.

A mensagem de reprimenda de Hugo Mendes é uma das “provas” invocadas para justificar porque é que a presidente executiva da TAP não estabelecia contacto com o Ministério das Finanças, quem tinha a missão de exercer a função acionista na empresa e que não terá sido informado da decisão de pagar uma indemnização de 500 mil euros para Alexandra Reis.

Versão mantida por Fernando Medina e por João Leão até à presente data. De acordo com os dois, o Ministério das Finanças nunca foi informado dos contornos que estiveram na origem da demissão de Alexandra Reis, nem tão pouco do valor de indemnização entregue à gestora.

Braço direito de Pedro Nuno avisou CEO da TAP que “única porta de entrada no Governo” era o seu Ministério. A defesa de Christine Widener