Em entrevista à BBC esta terça-feira à noite, em direto a partir dos escritórios do Twitter em São Francisco, Elon Musk adaptou uma das mais famosas máximas de Ted Mosby, de “How I Met Your Mother”, acrescentou-lhe uma hora e admitiu que muito provavelmente não devia fazer posts na sua própria rede social (ou em qualquer outra) depois das 3h da madrugada.

Se a personagem da série de culto, vencedora de 7 Emmys, defendia que “nada de bom” acontece depois das 2h e que a partir dessa hora o melhor a fazer é mesmo dormir, o segundo homem mais rico do mundo — que, via Twitter, chegou a desafiar Vladimir Putin para uma luta corpo a corpo ou a anunciar, à laia de piada mas sem emojis, que ia comprar o Manchester United — diz agora que a partir das 3h o melhor mesmo é fazer log out.

“Se já dei tiros nos próprios pés com tweets, várias vezes? Sim. Acho que não devia twittar depois das 3 da manhã”, admitiu. “Se vais twittar alguma coisa que possa ser controversa, guarda-a em rascunho e olha para ela no dia seguinte e decide se vale a pena fazê-lo.”

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A entrevista, que aconteceu justamente um dia depois de a BBC ter contestado o selo de “media financiado pelo governo” que a rede social lhe atribuiu e que terá sido combinada em poucas horas, depois de o empresário ter aceitado de forma “inesperada” o pedido feito pelo correspondente nos Estados Unidos, serviu também para abordar a polémica.

Garantindo ter o “maior respeito” pela organização — que antes já tinha dito que considerava “uma das menos enviesadas” —, o empresário sul-africano anunciou ainda que a tag associada à emissora britânica vai ser alterada. “Queremos [a tag] tão verdadeira e precisa quanto possível, estamos a ajustar a tag para ‘financiada publicamente’, vamos tentar ser precisos.”

Já os famosos “vistos azuis” que certificam os utilizadores das contas desde que o Twitter foi criado e que, por decisão de Elon Musk, passaram recentemente a ser pagos a 7 dólares (6,5 euros) ao mês, vão mesmo começar a ser retirados das contas antigas no final desta semana, confirmou Musk.

Confrontado com os casos de meios de comunicação como o New York Times, que já fizeram saber que não vão estar disponíveis para comprar o selo de verificação, menorizou a polémica — “É uma pequena quantia de dinheiro, por isso não sei qual é o problema deles” —, e preferiu ver nestas recusas uma oportunidade para esvaziar de poder uma “certa classe de jornalistas ungidos”.

“Tenho esperança que este possa ser um caso de escolha da narrativa por parte do público, por oposição à escolha da narrativa pelos meios de comunicação social”, atacou Elon Musk, que ao longo da conversa ainda fez questão de dizer que não é ele, mas o seu cão, Floki, o verdadeiro CEO do Twitter.

Questionado sobre se se arrepende de ter avançado para a compra do Twitter, Elon Musk, que detém também a Tesla e a SpaceX, não escondeu que o “nível de dor” associado à decisão “tem sido extremamente elevado” e que os primeiros seis meses à frente da empresa “não têm sido propriamente uma festa”.

“Não tem sido aborrecido. Tem sido uma montanha-russa e tanto”, disse Musk, que assim que chegou ao Twitter anunciou uma vaga massiva de despedimentos. Ainda assim, manteve que comprar a rede social foi “a coisa certa a fazer” — se bem que não tenha descartado vender a empresa, se aparecer “a pessoa certa”.

“Se estivesse confiante de que iriam perseguir rigorosamente a verdade, então suponho que ficaria contente por passar a empresa a outra pessoa”, disse, já depois de admitir que só avançou para a aquisição, depois de ter deixado cair a primeira oferta e recuado, porque a isso terá sido obrigado “por um juiz”. Na altura, pagou 44 mil milhões de dólares. Agora, caso vendesse a empresa, não seria pelo mesmo preço, reconheceu.

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Sobre os cortes de pessoal, que levaram a empresa dos quase oito mil funcionários aos cerca de 1.500 em apenas seis meses, Musk garantiu que não foi “de todo divertido” mas assegurou que, na altura, se impunham “medidas drásticas”. Quando chegou à empresa, revelou, o Twitter tinha “um cash flow negativo de 3 mil milhões de dólares”.

Não tivessem sido os despedimentos e a empresa só teria tido “mais quatro meses de vida”, disse ainda, admitindo que nem todas as pessoas foram demitidas presencialmente: “Não é possível falar com tanta gente cara a cara”, defendeu-se.

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Apesar dos meses “stressantes” que tem tido — em que frequentemente terá ficado a dormir no escritório, num sofá numa biblioteca “a que ninguém vai” —, Elon Musk garantiu ainda que o saldo final é positivo. Mesmo que não possa dizer o mesmo das contas da empresa: apesar de grande parte dos anunciantes já ter regressado, o Twitter ainda não alcançou o break-even, mas estará quase lá, avançou o CEO.

Apesar de reconhecer falhas e quebras no Twitter, que por várias vezes esteve em baixo ao longo dos últimos meses, na entrevista, que foi vista em direto por cerca de 3 milhões de pessoas em todo o mundo, Elon Musk fez ainda questão de dizer que tudo está a correr “razoavelmente bem”. Ainda assim, não elevou demasiado a fasquia: “O site funciona”.

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