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Uma grávida num bombardeamento em Mariupol e um afegão que vendeu um rim pela família: as fotografias vencedoras do World Press Photo

Este artigo tem mais de 1 ano

Foram estas as imagens que ganharam a 66.ª edição do concurso World Press Photo, que retrataram acontecimentos como o cerco de Mariupol e a governação do Afeganistão após a retirada dos EUA.

"Ataque Aéreo à Maternidade de Mariupol", de Evgeniy Malotetka, da Associated Press, foi o grande vencedor deste ano
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"Ataque Aéreo à Maternidade de Mariupol", de Evgeniy Malotetka, da Associated Press, foi o grande vencedor deste ano

Evgeniy Malotetka/Associated Press

"Ataque Aéreo à Maternidade de Mariupol", de Evgeniy Malotetka, da Associated Press, foi o grande vencedor deste ano

Evgeniy Malotetka/Associated Press

Uma grávida no cerco de Mariupol que morreu horas depois do nascimento da criança, o Afeganistão enquanto nação deixada ao abandono pela comunidade internacional e governada pelo autoritarismo religioso, e a prova que as alterações climáticas estão a levar a uma mudança da nossa relação com a água. Estes foram os temas retratados na fotografias que ganharam a 66.ª edição do World Press Photo, concurso que todos os anos destaca os melhores trabalhos de fotojornalismo no mundo.

Os 3 752 fotojornalistas que submeteram mais de 60 mil fotografias competiram por quatro categorias. Singles, onde apenas uma fotografia é apresentada. Stories, que premeia histórias que contenham entre quatro a 10 fotografias. Long-Term Projects, onde são avaliados projetos que cubram um único tema ao longo de 24 a 30 fotografias, que tenham sido tiradas num mínimo  três anos diferentes. E ainda Open Format, categoria destinada a projetos que misturem storytelling com diferentes métodos ligados à fotografia.

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Em Singles, ganhou a fotografia intitulada “Ataque Aéreo à Maternidade de Mariupol”, do fotojornalista Evgeniy Malotetka, para a Associated Press. A imagem retrata um conjunto de soldados a transportarem Iryna Kalinina, uma grávida de 32 anos que foi transportada de maca em Mariupol depois de as tropas russas terem bombardeado a maternidade da cidade ucraniana, a 9 de março de 2022. O seu bebé, Miron — que significa “paz” em ucraniano — foi um nado-morto, e uma hora e meia depois do parto, Iryna Kalinina acabou por morrer.

Chegámos a Mariupol apenas uma hora antes da invasão russa”, explicou à World Press Photo Evgeniy Malotetka, segundo o comunicado enviado ao Observador. “Durante 20 dias, vivemos com os paramédicos na cave do hospital, e em abrigos com cidadãos comuns, enquanto tentámos mostrar o medo com o qual os ucranianos viviam.”

Iryna Kalinina, uma mulher grávida ferida, é carregada para longe de uma maternidade que foi bombardeada pelas tropas russas a 9 de março de 2022. Tanto a mãe como o filho, Miron, acabaram por morrer

Evgeniy Malotetka/Associated Press

A fotografia da mulher grávida em Mariupol foi escolhida de forma anónima, e a votação foi decidida no aniversário do início da invasão das tropas russas na Ucrânia. “O júri mencionou o poder da fotografia e a história por trás, assim como as atrocidades que retrata”, explicou um dos membros do júri e editor de fotografia do New York Times, Brent Lewis. “A morte tanto da mulher grávida como do seu filho resumem grande parte do conflito, assim como a intenção da Rússia.”

A categoria Stories foi ganha pelo fotógrafo dinamarquês Mads Nissen e intitula-se “O Preço da Paz no Afeganistão”. O projeto retratou o quotidiano da população afegã em 2022. A fotografia escolhida para representar o projeto mostra um rapaz com uma cicatriz de uma operação para retirar um rim. No Afeganistão, como meio de sobreviver, muitas pessoas sujeitam-se à doação de rins no mercado negro para que possam ter algum dinheiro. Em agosto de 2021, as tropas dos Estados Unidos da América retiraram do Afeganistão ao fim de duas décadas no país, e os talibã assumiram novamente o controlo da nação. Estimativas para 2022 apontam que 97% da população afegã vive abaixo do limiar da pobreza, e que 95% não tem comida suficiente para o seu regular desenvolvimento.

O meu desejo com este trabalho é acima de tudo criar não apenas consciencialização, mas um envolvimento com os milhões de afegãos que estão a necessitar desesperadamente de comida e ajuda humanitária atualmente”, afirmou Mads Nissen.

4 fotos

O prémio da categoria Long-Term Project foi atribuído ao trabalho “Águas Danificadas”, da fotojornalista arménia Anush Babajanyan, para a National Geographic Society. Este projeto retratou o modo como quatro nações — Usbequistão, Cazaquistão, Tajiquistão e Quirguistão — interagem em função dos seus recursos hídricos partilhados. “A água interliga-se com a vida das pessoas”, afirmou Anush Babajanyan. “Queria captar o espírito poderoso das pessoas cujas vidas estão a mudar porque o clima está a mudar.”

8 fotos

O galardoado na categoria Open Format foi o projeto “Aqui, As Portas Não Me Conhecem”, do fotógrafo egípcio Mohamed Mahdy. O projeto, realizado desde 2015 e que se encontra na internet, procura alertar para a subida do nível das águas do mar e o seu impacto na comunidade de Al Max. Esta aldeia de pescadores localiza-se num canal na região de Alexandria, no Egito, e tem sido ameaçada pela subida da água. Em 2020, o governo do Egito começou o processo de realojamento dos seus habitantes e demolição das antigas casa, o que levou, segundo Mohamed Mahdy, à “perda de uma memória, de uma cultura e de uma identidade“.

5 fotos

“Milhões de pessoas em redor do mundo vão olhar para estas fotografias e ver morte, desespero, perda e crise“, afirmou a diretora executiva da Fundação World Press Photo, Joumana El Zein Khoury. “O meu desejo é que vejam aquilo que eu também vejo. A esperança que, através da documentação, exista uma hipótese de justiça e um futuro melhor, que através da memória homenageamos o que se perdeu, e através da coragem e dedicação destes fotógrafos somos todos compelidos.”

Para Joumana El Zein Khoury, o objetivo com este concurso é “ajudar as pessoas a perceberem o mundo que partilhamos todos“.”Penso muitas vezes sobre como as pessoas nestas fotografias não são assim tão diferentes de mim, levando-me a preocupar-me mais com o que lhes está a acontecer. Esse é o contributo indispensável do fotojornalismo e da fotografia documental que espero que todos os que virem estas histórias entendam.”

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