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O Presidente brasileiro, Lula da Silva, voltou a condenar a invasão russa da Ucrânia, mas admitiu que zonas como a Crimeia ou o Donbass possam não continuar a pertencer a Kiev.

O chefe de Estado brasileiro reuniu-se esta quarta-feira com o primeiro-ministro espanhol em Madrid, como parte da sua visita de Estado a Espanha. Numa conferência de imprensa conjunta no final do encontro, Lula voltou a ser questionado, como aconteceu nos últimos dias, sobre as suas posições em relação à Ucrânia, e quanto a possíveis cedências de território à Rússia.

Não me cabe a mim decidir de quem é a Crimeia. Quando se sentar em uma mesa de negociação, pode-se discutir qualquer coisa, até a Crimeia. Mas quem tem que discutir isso são os russos e ucranianos. Primeiro pára a guerra, e depois vamos conversar”, afirmou.

O Presidente brasileiro tem sido criticado nas últimas semanas por declarações em relação ao conflito em que sugeriu que o apoio militar da Europa e dos Estados Unidos da América a Kiev impede a paz, e onde deu a entender que a guerra era do interesse de Vladimir Putin e de Volodymyr Zelensky. Depois da polémica gerada pela sua visita a Portugal, Lula reiterou a sua condenação da Rússia, mas afirmou que o importante é apontar para o futuro e procurar um fim negociado para o conflito.

Ninguém pode ter dúvida que nós brasileiros condenamos a violação territorial que a Rússia fez contra a Ucrânia. O erro aconteceu, a guerra começou. Agora, não adianta ficar dizendo quem está certo ou errado, o que precisa é fazer a guerra parar”, disse. “Você só vai discutir um acerto de contas quando pararem de dar tiros”.

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Lula da Silva disse uma vez mais que condena a invasão, mas que não ouve “ninguém falar da paz”, assegurou que vai continuar a fazer contactos com líderes internacionais para tentar constituir um grupo de mediadores, e repetiu críticas às Nações Unidas e à composição do Conselho de Segurança da ONU.

“Não é o facto de você ser contra ou a favor da guerra, todos nós somos contra a guerra. Mas a guerra já começou e eu acho que a condução da discussão sobre a guerra está errada. A ONU que me perdoe, a ONU já poderia ter convocado algumas sessões extraordinárias com todos os países-membros para discutir a guerra. Por que é que não fez isso?“, afirmou

O Presidente brasileiro reiterou que entende a posição da Europa em relação à guerra na Ucrânia “porque a Europa está no continente em que está a guerra”.

“Obviamente que a preocupação dos países europeus é diferente da minha preocupação, que estou a 14 mil quilómetros de distância, é diferente. E por isso eu tenho a comodidade de falar tanto em paz e achar que a gente não tem de fazer opção”, reconheceu.

Ao lado de Lula, Pedro Sánchez agradece procura de paz na Ucrânia, mas lembra que “há um agressor e um agredido”

O líder do governo espanhol agradeceu os esforços do governo do Brasil para chegar à paz na Ucrânia, mas sublinhou que não se pode esquecer que há um agressor e um agredido no conflito.

“Quero agradecer ao Presidente Lula o seu envolvimento nesta questão porque sentiu-se a falta nestes últimos anos do envolvimento e do compromisso nos assuntos globais por parte do Brasil”, disse Pedro Sanchéz.

O primeiro-ministro disse que Espanha e Brasil “desejam o mesmo, a paz” e para haver uma paz “duradoura e justa é importante o envolvimento de todos”, mas “sem esquecer que nesta guerra há um agressor e um agredido”.

“O agressor é [o Presidente da Rússia, Vladimir] Putin e o agredido é um povo, o ucraniano, que a única coisa que faz é lutar pela sua integridade territorial, pela sua soberania nacional e pela sua liberdade”, afirmou.

Lula da Silva. “Visitas a Portugal e Espanha pretendem reatar relações com a Europa e reforçar laços comerciais”

O líder do Governo espanhol defendeu que “é fundamental que a voz do país agredido” seja ouvida “em primeira pessoa” e que “seja levada em conta a sua fórmula para a paz”. Sánchez ressalvou ainda que o Brasil sempre condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, “e portanto sempre defendeu a integridade territorial da Ucrânia“.

“Depois, poderemos ter matizes, e eu tenho-os em relação a algumas coisas que disse o Presidente Lula da Silva”, disse Sánchez.

O primeiro-ministro espanhol destacou que “o Brasil é uma potência global” e não é possível responder a desafios globais, como as alterações climáticas ou conflitos internacionais, sem o envolvimento do governo brasileiro, antes de voltar a saudar os esforços de Lula da Silva para ser criado um grupo de países que consiga ser mediador para um processo de paz na Ucrânia.

Espanha e Brasil esperam fechar acordo UE-Mercosul no segundo semestre

Além da questão da Ucrânia, na conferência de imprensa, tanto Sánchez como Lula da Silva reiteraram o objetivo de ser fechado ainda em 2023 o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.

Espanha presidirá ao Conselho da União Europeia a partir de 01 de julho, durante seis meses, e o mesmo fará o Brasil no Mercosul (Mercado Comum do Sul, que inclui Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai).

Lula da Silva termina esta quarta-feira em Madrid a primeira viagem oficial à Europa neste mandato como Presidente do Brasil, que o levou também a Portugal.

Manifestação do Chega. Gritos de “Lula na prisão”, o saudosismo de Salazar e as críticas a José Sócrates