O sonho ainda não morreu mas começa a ganhar formas de ser mesmo apenas um sonho. Após uma grande época na Premier League onde foi quebrando vários registos que não se viam pelo Emirates há duas décadas, o Arsenal cedeu na parte fundamental da temporada. Escorregou, voltou depois a escorregar, teve mais uma escorregadela e acabou mesmo por cair no encontro do título com o Manchester City. Mesmo com um jogo a menos, o conjunto de Pep Guardiola subiu à liderança do Campeonato após vencer fora o Fulham, deixando os gunners reféns do seu próprio destino que não depende apenas de si. No entanto, e para haver ainda o tal sonho, a equipa de Mikel Arteta tinha de regressar aos triunfos. Essa era a principal meta no dérbi londrino com o Chelsea, um confronto entre quem estava conjunturalmente mal e estruturalmente mal.

Qual é coisa, qual é ela, que antes de o ser já parece que o é? O City líder da Premier League

Havia sempre um consolo garantido nesta temporada do Arsenal, com o regresso garantido à Champions. E um outro no pior cenário nesta fase que passava pelo segundo lugar na prova. Ainda assim, e depois de tudo o que a equipa conseguiu fazer, sabia a pouco. Os 247 dias na liderança que chegaram ao fim este domingo de pouco ou nada podem ter valido na corrida para quebrar um jejum de quase 20 anos. “Sim, é verdade que agora não está nas nossas mãos mas vamos tentar ganhar os nossos jogos”, dizia o técnico Mikel Arteta.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

E agora para algo completamente novo que até parece velho: o Manchester City é líder da Premier League

“Sei o que estamos a tentar fazer. Temos a melhor parte da temporada para jogar com cinco encontros até ao final. Isto ainda não acabou. Pagaria o que fosse preciso para estar nesta posição na próxima época, podem acreditar em mim… Apesar da desilusão da última derrota [com o Manchester City] e de tudo o que envolveu a mesma, há dois pontos a ter em conta: reconhecer o que muitas pessoas do clube fizeram para que agora pudéssemos voltar à Liga dos Campeões, que já é uma coisa muito complicada de conseguir, e perceber que, mesmo fazendo algo que não acontecia há mais uma década, não estamos satisfeitos e queremos sempre um pouco mais”, acrescentara o treinador espanhol sobre este final esperado de temporada, que depois do regresso aos triunfos frente ao Chelsea deixou a equipa de novo na liderança pelo menos 24 horas.

Foi melhor ser Jota do que ser João: Liverpool salta para sexto e Chelsea é um caso perdido

Do outro lado, o Chelsea. E se o Arsenal estava mal na série mais recente entre uma época globalmente boa, os blues continuavam a confirmar que há sempre mais um bocadinho para bater no fundo. Era preciso recuar até 11 de março para encontrar um triunfo (Leicester, 3-1), sendo que daí para cá os londrinos que investiram mais 300 milhões de euros em janeiro depois dos 300 milhões no verão levavam um conjunto de dois empates e seis derrotas, cinco das quais consecutivas (Wolverhampton, Real, Brighton, Real e Brentford). Quando havia esperança de uma ida à Champions, as últimas jornadas chegavam com o Chelsea mais perto da descida (nove pontos de diferença) do que de um lugar na Europa (15). Mais: como todos os dias algo de “diferente” acontece, agora foi Kai Havertz a criticar numa entrevista à Kicker a opção de Todd Boehly em despedir “do nada” Thomas Tuchel antes da aposta falhada no treinador Graham Potter. “Tudo o que podia dar errado foi ainda mais errado para nós este ano”, assumiu o alemão entre a sua lei de Murphy.

Se dúvidas ainda existissem sobre o atual momento do Chelsea, basta dizer que até o Arsenal, que já não ganhava há quatro jogos e poderia acusar esse fator, chegou ao intervalo com o jogo ganho diante de uma amostra de equipa com medo da própria sombra que tem quase tantas dificuldades a atacar como problemas a defender. Assim, e de forma quase natural, os gunners aproveitaram para deixar o resultado em 3-0 antes do descanso com Ödegaard a inaugurar o marcador com um remate de pé esquerdo de primeira que bateu ainda na trave após assistência de Xhaka (18′), o 2-0 a papel químico com o norueguês a bisar (31′) e Gabriel Jesus a aumentar a vantagem num ressalto na área que mostrou todas as debilidades defensivas dos blues (34′). A cara de Frank Lampard e companhia dizia tudo sobre mais um “atropelo” num dérbi…

Aubameyang, que regressava ao Emirates, tocou dez vezes na bola na primeira parte e saiu ao intervalo para a entrada de Havertz. João Félix, Mudryk e Ziyech continuavam no banco. E se não fosse Thiago Silva a tirar em cima da linha um desvio de cabeça de Gabriel Magalhães e Kepa a desviar para canto um remate colocado de Xhaka, a margem ia aumentando ainda mais, sendo que Madueke, num remate enrolado após grande passe de Kovacic (65′). Após investir 300+300 milhões para entrar para a história, incluindo contratações como a de Enzo por 120 milhões, Todd Boehly está quase a entrar na história como queria pelas piores razões. Descer de divisão, mesmo com seis derrotas consecutivas (quatro na Premier), é complicado face aos nove pontos de avanço. Evitar a pior pontuação de sempre no principal escalão com 39 pontos a ter de chegar aos 50 jogando ainda com City, United e Newcastle, aí começa a ser um cenário muito provável…