A investigação conseguiu criar “o mapa da geografia” do grupo em vários municípios, com a reconstrução dos papéis, tarefas e dinâmicas dos líderes, promotores, organizadores e participantes das associações mafiosas.
A polícia militarizada italiana realizou esta quarta-feira uma grande operação em todo o país, onde participaram 500 agentes, e que terminou com a detenção de 61 membros da ‘Ndrangheta, a poderosa máfia da Calábria, no sul de Itália.
Entre as 167 pessoas investigadas, como resultado da operação, está Andrea Niglia, ex-presidente da província de Vibo e ex-prefeito de Briatico, na Calábria, por alegada fraude agravada pelo método mafioso.
Centenas de membros da ‘Ndrangheta e colaboradores, alguns dos quais foram alvo desta operação batizada Maestrale-Carthago, já são arguidos no quadro de um “mega julgamento” em curso.
Na semana passada, a polícia europeia tinha lançado uma grande operação contra a ‘Ndrangheta, detendo 132 pessoas no continente, incluindo em Portugal, bem como no Brasil e no Panamá, por suspeita de tráfico de drogas e armas, lavagem de dinheiro e fraude fiscal.
“O mapa da geografia” da ‘Ndrangheta
As investigações das autoridades italianas conseguiram criar “o mapa da geografia” da ‘Ndrangheta nos municípios de Mileto, Filandari, Zungri, Briatico e Cessaniti, com a reconstrução dos papéis, tarefas e dinâmicas dos líderes, promotores, organizadores e participantes das associações mafiosas, detalharam os órgãos de comunicação italianos.
Da mesma forma, os principais expoentes das famílias ‘Ndrangheta na província de Vibo Valentia acabaram detidos na grande operação que começou na madrugada de quarta-feira em toda a Itália e envolveu prisões nas regiões da Calábria, Lácio, Lombardia, Piemonte e Veneto.
Estes clãs destacaram-se, acrescentam, pela sua “forte vocação económico-empresarial e pela capacidade de estabelecer relações fluidas com trabalhadores de ‘colarinho branco’, políticos e representantes de administrações públicas”.
Segundo os procuradores, os vários crimes dos clãs ‘Ndrangheta incluem não só tráfico de drogas e posse de armas, mas também compra de votos, interferência em concursos públicos, fraude ligada a centros de migrantes ou extorsão de fundos de empresas do setor do turismo.
Segundo o Ministério Público de Catanzaro, membros da máfia visados pela operação divulgada esta quarta-feira conseguiram infiltrar-se no sistema público de saúde da cidade de Vibo Valentia para obter a gestão de contratos de alimentação para hospitais.
Uma das fraudes diz respeito à gestão pública do acolhimento de migrantes, com a apresentação pela ‘Ndrangheta de faturas de serviços inexistentes.
Num outro exemplo, dentro de uma administração municipal, um funcionário público “ajustou” o resultado de um concurso destinado ao preenchimento de um cargo público para permitir a contratação de um diretor próximo da máfia.
Até os produtores das famosas cebolas roxas de Tropea, muito apreciadas na Itália, foram vítimas de extorsão, assim como as empresas turísticas que operam ao longo da costa da Calábria.
A ‘Ndrangheta atua em mais de 40 países no total e a sua influência significativa na economia da Calábria tornou-a particularmente difícil de erradicar, principalmente por causa da fortuna que acumulou através das suas atividades criminosas.
O ministro do Interior, Matteo Piantedosi, elogiou na quarta-feira a operação contra “uma associação criminosa com ramificações em todo o território nacional”.
Piantedosi também mencionou a sua satisfação com uma outra operação realizada também na Calábria contra uma organização transnacional dedicada ao tráfico de pessoas e na qual foram emitidos 39 mandados de detenção.