Desde 2019 que a Google e uma rede de parceiros tem em marcha planos para terminar com os cookies, os ficheiros que são criados sempre que um utilizador visita um site e que guardam informação sobre o que foi feito durante a navegação. Mas, hoje em dia, a experiência dos cookies é intrusiva para os utilizadores – consultar o site de uma loja de roupa vai fazer com que, nos dias seguintes, pareça ser perseguido não só por anúncios dessa loja, mas também por opções semelhantes. Essa é a experiência dos third-party cookies, ou cookies de terceiros, que são usados principalmente para fins publicitários, assumindo uma importância significativa na forma como a publicidade digital funciona.

No caso do Chrome, o navegador mais utilizado do mundo, pertencente à Google, o plano para substituir os cookies por algo que garante uma “web aberta e próspera”, como diz a companhia, e mais focada na privacidade dos utilizadores, está centrado no projeto Privacy Sandbox. Ao longo dos últimos anos, um grupo de parceiros tem trabalhado no desenvolvimento de tecnologias que não dependam de identificadores de monitorização de navegação, num plano que também foi desenvolvido tendo em conta a supervisão da CMA, a autoridade da Concorrência do Reino Unido.

A despedida dos cookies tem sido um processo longo, com várias etapas. Uma vez que o panorama digital inclui várias partes, desde anunciantes mas também empresas que desenvolveram tecnologias para anúncios, a chamada adtech, há necessidade de garantir que as alterações não causam uma catástrofe — ou um “apocalipse dos cookies”, como já é conhecido. Um dos maiores pedidos passa pela capacidade de poder testar as condições de tráfego sem os cookies e perceber qual o comportamento destas novas tecnologias para publicidade.

Cookies. O que são e para que servem

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Esta quinta-feira, Anthony Chavez, vice-presidente do projeto Privacy Sandbox, anunciou os próximos passos nesta despedida gradual dos cookies, que só deverão estar completamente descontinuados no segundo semestre de 2024. Assim, a partir de julho, haverá disponibilidade geral das API, as interfaces de programação de aplicações do Privacy Sandbox, que vão estar disponíveis para todos os utilizadores do Chrome, explica numa publicação no blog da Google. “Com este marco, os programadores podem utilizar estas API para realizar testes de tráfego em tempo real em escala, enquanto se preparam para funcionar sem cookies de terceiros”, explica o porta-voz. É feita a promessa de que, antes da descontinuação dos identificadores, não há planos para “fazer alterações significativas nas interfaces da API”.

Outras das novidades é que, no primeiro trimestre de 2024, para “que o ecossistema se prepare com antecedência” para o fim dos cookies, quem esteja com as API do Privacy Sandbox possa avaliar as soluções em condições reais. Por isso, há planos para “descontinuar o uso de cookies de terceiros para 1% dos utilizadores do Chrome”. A percentagem pode parecer diminuta, mas, segundo as estimativas, o Chrome é usado por 2,65 mil milhões de pessoas, fazendo com que o tal 1% possa ser o equivalente a vários milhões de pessoas. A ideia é que quem depende destas soluções possa avaliar “a prontidão e a eficácia dos seus produtos sem cookies de terceiros” num “mundo real”. A expectativa é que os cookies de terceiros sejam descontinuados de forma gradual a uma percentagem cada vez maior de utilizadores do Chrome até chegar ao objetivo de 100% dos utilizadores, esperado para daqui a mais de um ano, no segundo semestre de 2024.

Antes do teste em escala com utilizadores do Chrome, ainda no quarto trimestre deste ano, os programadores vão ter a possibilidade de “simularem a suspensão do uso de cookies de terceiros do Chrome para uma percentagem configurável dos seus utilizadores”. Ou seja, antes da experiência real, já será possível fazer testes que são controlados pelo programador, que pode, por exemplo, configurar “níveis mais elevados de tráfego sem cookies.”

Com estes anúncios e cronologia mais detalhada para o fim dos cookies de terceiros, é referido que os contributos e opiniões de empresas que operam na área da publicidade digital são valorizados. “Esperamos continuar a colaborar com os participantes de toda a indústria, à medida que chegamos aos estágios finais da nossa jornada para descontinuar os cookies de terceiros no Chrome e melhorar a privacidade na web para todos.”

Uma máquina do tempo e o “privilégio” de prever o futuro. Como a Google quer mais compras online em Portugal

Além do Chrome, outros navegadores já disseram adeus aos cookies de terceiros, como o Firefox ou o Safari, desenvolvido pela Apple. A diferença é que, dada a quota de mercado do Chrome, que segunda a Statista estava acima dos 65% em abril, alterar um paradigma com décadas como é o dos cookies de terceiros tem consequências relevantes.

No ano passado, a iniciativa Privacy Sandbox chegou aos dispositivos móveis Android, também para perceber como é que funciona a navegação mobile sem cookies.