Os produtores agropecuários dos estados de Zúlia, Táchira, Barinas e Apure, no sudoeste da Venezuela, têm sido alvo de extorsão por parte de grupos armados, para financiar atividades criminosas, denunciou esta sexta-feira a FundaRedes.

“Os grupos armados irregulares invadem as terras e extorquem dinheiro aos criadores de gado na fronteira”, explica a organização não-governamental (ONG), num comunicado.

Segundo a FundaRedes “o direito à vida, à integridade pessoal e à propriedade, assim como o desenvolvimento das atividades agropecuárias, estão comprometidos e violados pela ação desmedida de organizações criminosas que operam com o conhecimento das autoridades militares e policiais”.

“Os produtores de gado e produtores agropecuários dos estados de Zúlia, Táchira, Apure e Barinas estão a sofrer ameaças pessoais, assim como ameaças às suas terras e propriedades. Os sequestros, assassinatos e extorsões aumentaram nos últimos anos, especialmente em Zúlia e Apure, como a Federação Nacional da Pecuária Venezuelana tem denunciado perante o Ministério Público e à imprensa”, afirma.

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Segundo a Fundaredes, nestas regiões têm-se imposto as regras de grupos guerrilheiros e paramilitares de origem colombiano e outros grupos armados”.

“O Exército de Libertação Nacional [colombiano] está envolvido em todo o tipo de negócios criminosos ao longo da fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, mas o seu papel contínuo na facilitação do contrabando de gado pode ser um dos mais ignorados”, explica o documento.

No comunicado de imprensa, a FundaRedes explica, citando um produtor, que no município de Machiques, no estado de Zúlia, “os organismos de segurança e autoridades locais também se veem comprometidos”.

“Todos os organismos de segurança que têm presença na zona fronteiriça recebem subornos em troca de permitirem a circulação de animais”, explica.

Por outro lado, citando o ex-presidente da Federação de Produtores de Gado, Armando Chacín, a FundaRedes explica que no estado de Zúlia “as extorsões são variadas, pois não só pedem dinheiro. Por vezes visitam as unidades de produção e roubam os apetrechos e a maquinaria para trocar e assim cobrar a extorsão“.

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“São criminosos capazes de matar os trabalhadores se não pagas”, explica.

Em janeiro, o presidente da Federação de Produtores de Gado da Bacia do Lago de Maracaibo, Paúl Márquez, denunciou “um aumento dos roubos de gado nos estados fronteiriços [com a Colômbia], nomeadamente nos estados de Zúlia, Táchira e Apure”.

“Os produtores têm de lidar com grupos irregulares que subjugam as suas atividades produtivas, o que obrigou os proprietários a se distanciaram das suas propriedades e a abandonarem as suas terras”, explica.

No comunicado, a FundaRedes sublinha “que tem denunciado em reiteradas oportunidades, perante diferentes organismos regionais e nacionais a presença e ações de grupos armados irregulares contra a população em geral e os produtores agropecuários na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, afetando a sua paz, a vida quotidiana, o desenvolvimento e impondo normas baseadas na violência e no terror”.

“O Estado venezuelano conhece a situação que estão a atravessar os grémios nas zonas rurais, uma vez que tem havido múltiplas e constantes denúncias destes acontecimentos”, afirma.

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A FundaRedes lamenta que “a resposta do Estado venezuelano tenha sido praticamente nula e insuficiente”, uma vez que “os factos persistem, em detrimento do direito à propriedade e à segurança pessoal, em violação da salvaguarda da soberania nacional perante agentes armados externos”.

A FundaRedes é uma ONG venezuelana que promove a defesa dos direitos humanos, o exercício da soberania, o desenvolvimento humano e uma cultura democrática.