O secretário-geral adjunto do Partido Socialista (PS), João Torres, acusou Aníbal Cavaco Silva de ter perdido “o sentido de Estado que se exige” de um ex-governante e de estar “muito mal resolvido com a sua impopularidade”. Em declarações aos jornalistas este domingo, em Braga, Torres considerou que esta é a única justificação para a “agressividade e violência verbal” usadas por Cavaco Silva para se referir ao atual Governo.

O antigo primeiro-ministro e Presidente da República teceu duras críticas ao Executivo de António Costa no discurso de encerramento do terceiro Encontro Nacional de Autarcas Social-Democratas, que decorreu este sábado em Lisboa.

Cavaco Silva: “Governo passa os dias a mentir. Nunca pensei que era possível descer tão baixo em matéria de ética”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Reagindo ao discurso, o secretário-geral adjunto do PS concluiu que as declarações de Cavaco Silva revelam que este “perdeu o sentido de Estado que se exige e que penso que a generalidade dos portugueses gostaria de apreciar em alguém que durante tanto tempo exerceu” altos cargos públicos. Para Torres, a “agressividade” do tom de Cavaco, que usou uma “linguagem que vai para lá do que são os limites aceitáveis em democracia”, revela que este está “de alguma forma inconformado por ter uma grande impopularidade no nosso país”.

“O mandato presidencial do Professor Cavaco Silva é um mandato de que nenhum português tem particular boa memória e parece-me que está mal resolvido com o seu passado. Só isso pode justificar a forma como se dirigiu em particular ao PS”, considerou o socialista.

Brilhante Dias critica “linguagem ofensiva e antidemocrática” de Cavaco. “Degradação da política é isto”

Declarando que o PS “não aceita lições de moral da parte de Cavaco Silva, como não aceita do PSD ou de qualquer outra formação político-partidária”, o secretário-geral adjunto dos socialistas disse que o ex-governante se quer afirmar como líder de uma oposição vazia de ideias. “Julgo que hoje não há nenhum português que se reveja no PSD para propor uma alternativa. Só mesmo Cavaco Silva é que reconhece no Dr. Luís Montenegro qualidades para chefiar um Governo”, afirmou.

Torres acusou ainda o PSD e Cavaco Silva de se colarem ideologicamente a “partidos que são radicais, populistas e extremistas e perante os quais o PS tem uma posição muito clara”. “[O PS] não cederá, porque, para nós, os valores fundacionais da nossa democracia são bem mais importantes do que outros valores que presidem à nossa oposição.”

As reações no PS foram-se sucedendo, com o líder parlamentar, Eurico Brilhante Dias, a acusar Cavaco Silva de usar uma linguagem “ofensiva e antidemocrática”, mostrando que há uma “evidente captura da direita democrática pelos radicais extremistas”, garantiu. O líder da bancada deixou uma promessa sobre o que disse ser uma falta de “respeito” do antigo Presidente: “Não esqueceremos”.

Já o antigo governante e ex-porta-voz do PS Vitalino Canas disse no programa Explicador, da rádio Observador, que um antigo governante e Presidente, como é o caso de Cavaco Silva, não deve “contribuir para a degradação das instituições” — e Cavaco “ultrapassou um pouco esse limiar”, sentenciou. “Não sei se estará a preparar nova candidatura presidencial. (…) Cavaco parece olhar para a sua história como um baú de chatices em que ainda há muitas coisas por resolver”.

“Não estou a desvalorizar importância da intervenção. Tem um profundo significado político, mas o excesso se calhar tirou-lhe algum do significado”, justificou, garantindo que os recados de Cavaco Silva se dirigiam sobretudo ao interior do PSD e até ao atual Presidente da República e criticando a abertura para alianças com o Chega: é um “apelo à absoluta falta de transparência política, intolerável em democracia”.