Parece uma ironia do destino. Rosalynn Carter, a mulher de Jimmy Carter, ex-Presidente dos Estados Unidos da América, que tanto lutou pela saúde mental, foi diagnosticada com demência, anunciou a família num comunicado oficial na terça-feira.

A ex-primeira dama recebeu o seu diagnóstico num momento em que o marido recebe cuidados paliativos em casa depois de se ter recusado a continuar no hospital para assim “passar o tempo que lhe resta (…) com a família”. O 39º Presidente norte-americano tem estado doente nos últimos anos com um melanoma que metastizou para outros partes do corpo.

Ex-Presidente Jimmy Carter dispensa tratamentos e decide “passar o tempo que lhe resta em casa, com a família”

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O casal vive em Plains, na Geórgia, onde segundo o comunicado do Centro Carter, Rosalynn “continua a viver feliz em casa com o seu marido, desfrutando da Primavera e das visitas dos seus entes queridos”.

Rosalynn, que chegou a ser considerada a “segunda pessoa mais poderosa dos Estados Unidos” pela revista Time, segundo um perfil de 1980 da revista Observer, era também conhecida como “a Magnólia do Aço” devido à sua influência política como primeira-dama, apenas superada por Eleanor Roosevelt, frisou o escritor Anthony Holden. O biógrafo britânico chegou mesmo a chamar-lhe “O segundo Presidente” na capa da Observer.

A novidade não estava em Rosalynn ter influência enquanto primeira-dama mas sim no facto de não ocupar nenhum cargo político e mesmo assim ter um papel preponderante “sobre o líder da democracia mais poderosa do mundo”, escreveu Holden. Aliás, não era segredo para ninguém o impacto que causava nos outros, nem mesmo para o Presidente norte-americano, que obrigou “a mulher a ficar em casa durante alguns meses porque ela estava a ter demasiada publicidade”.

De todas as causas que abraçou, houve uma em que a ex-primeira dama se tornou numa referência: a da saúde mental, trazendo o assunto para a ordem do dia. Principal defensora deste tema, Rosalynn não a abandonou quando deixou a  Casa Branca. Após a derrota de Carter em 1980 para Ronald Reagan, o casal  fundou o Centro Carter onde a saúde mental continuou a ser um marco importante.

Rosalynn sempre lutou para diminuir o estigma sobre o tema, que “é muitas vezes uma barreira que impede os indivíduos e as suas famílias de procurar e obter o apoio tão necessário”, diz a sua família no comunicado divulgado pelo Centro Carter. Agora, a família decidiu usar a sua doença para fazer o mesmo.  Ao divulgar o diagnóstico de demência da ex-primeira dama, o Centro reforça a importância deste debate, lembrando que um em cada dez idosos nos EUA sofre do mesmo problema. “Ao partilhar esta informação da nossa família, esperamos ajudar a incrementar as conversas sobre o assunto à volta da mesa da cozinha e nos consultórios médicos do país”, reforça a nota.

Parafraseando Rosalynn, a família lembra que existem quatro tipos de pessoas no mundo: “As que foram prestadoras de cuidados, as que são atualmente prestadoras de cuidados, as que serão prestadoras de cuidados e as que precisarão de prestadores de cuidados”.

A família Carter despede-se com uma mensagem positiva onde menciona que todos “estão a viver a alegria e os desafios desta jornada”, mas que não espera fazer mais comentários apelando ao bom-senso e compreensão de todos os que “desempenham um papel de prestador de cuidados”.