O tempo está a contar até outubro. É nesse mês que o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, deverá abandonar o cargo que ocupa desde 2014 para assumir funções como presidente do banco central norueguês. Contudo, a substituição está longe de ser pacífica com os 31 Estados-membros a discordarem sobre quem deve liderar a aliança transatlântica — e a levar a um impasse que pode levar a que o atual líder prolongue o mandato.

A suposta lista de substitutos é vasta e conta com nomes como o da primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, o da primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, o do primeiro-ministro dos Países Baixos, Mark Rutte, o do chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, o da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o do ministro da Defesa britânico, Ben Wallace.

Como conta o Financial Times, há Estados-membros da NATO que preferem que seja a vez de uma mulher liderar a aliança (seria a primeira vez que tal aconteceria), enquanto outros insistem na necessidade de que o novo secretário-geral seja oriundo da Europa de Leste (o que também seria a primeira vez), dado que é a zona do continente em que se desenrola o maior conflito das últimas décadas e que acabou por revitalizar a organização militar. Existe ainda outro requisito apoiado pela maioria dos países, incluindo os Estados Unidos: que o substituto de Jens Stoltenberg tenha chefiado um governo. 

Para ser secretário-geral da NATO, é necessário obter a aprovação de todos os 31 Estados-membros, o que ainda complica mais a tarefa. Subsiste, porém, a tradição de que o cargo seja ocupado por um europeu, ainda que necessite inevitavelmente do aval dos Estados Unidos.

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O nome de Mette Frederiksen é um dos que parece, para já, reunir algum consenso. O Financial Times diz que a primeira-ministra da Dinamarca terá tido o respaldo de França e Alemanha, mas existem vários países que já demonstraram a sua insatisfação. Um será a Turquia. “Os turcos podem querer bloquear a candidata dinamarquesa”, conta um diplomata centro-europeu ao Politico, ainda que, ao mesmo jornal, uma fonte do governo de Ancara tenha dito que as notícias de um possível veto turco não passavam de “rumores”.

Outro país que já se terá oposto, segundo avançou esta quarta-feira o Wall Street Journal, à escolha de Mette Frederiksen é a Polónia, que alega que a aliança é liderada há bastante tempo por nórdicos (antes do norueguês Jens Stoltenberg, esteve no cargo o dinamarquês Anders Fogh Rasmussen). O objetivo de Varsóvia é escolher alguém oriundo do Leste da Europa, principalmente de um país que tenha pertencido à União Soviética, o que serviria para enviar um forte sinal à Rússia. Além disso, contra a candidatura da atual primeira-ministra da Dinamarca, as autoridades polacas apontam ainda que o governo nórdico não cumpriu o objetivo de investir 2% do PIB na Defesa.

Para a Polónia, deve ser Kaja Kallas — conhecida como a “dama de ferro” da Estónia por conta das suas posições abertamente contra a Rússia durante a guerra na Ucrânia — a liderar a aliança transatlântica. Ainda assim, vários Estados-membros consideram que a escolha da primeira-ministra estónia aumentaria ainda mais a tensão com a Rússia e poderia ser interpretada como uma provocação para Moscovo.

Apesar de nunca ter fechado a porta a essa possibilidade, a primeira-ministra acredita que “será muito difícil” ser eleita secretária-geral. “Apesar de [a Estónia] estar na NATO há 20 anos, eu acho que há [líderes de] países que podem ser considerados mais elegíveis”, afirmou numa entrevista à BBC, lembrando, ainda assim, que Tallinn tem cumprido as obrigações de gastar 2% do PIB na Defesa.

Ao contrário de Kaja Kallas, o ministro da Defesa britânico, outro dos nomes da corrida, admitiu que gostava de tornar-se no próximo secretário-geral da NATO. “Sempre disse que é um bom trabalho. Seria um trabalho que eu gostaria de desempenhar, embora adore o que faço“, destacou Ben Wallace, ressalvando que não lhe cabe a ele “decidir” — mas sim “a outros aliados”. O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, não abriu o jogo sobre o futuro do membro do seu governo, mas já teve uma conversa com ele sobre as suas aspirações de liderar a aliança, relata o Guardian.

Porém, Ben Wallace falha no requisito de a maioria dos Estados-membros querer um líder de governo para chefiar a aliança. E a escolha de um ministro britânico, recorda o Politico, desagrada igualmente aos países da União Europeia que fazem parte da NATO.

Relativamente aos outros nomes, tais como o de Ursula von der Leyen ou Mark Rutte, ainda não é claro se estarão mesmo na corrida, ou se não passarão apenas de rumores. Sobre Pedro Sánchez, surgiram várias teorias de que terá antecipado as eleições gerais — após o desaire nas regionais — para ser visto como um possível candidato para liderar a NATO. Ainda assim, o líder do governo espanhol já rejeitou essa ideia: “Dizem que quero ser o secretário-geral porque […] procuro uma saída pessoal. É uma notícia falsa”.

Todas estas circunstâncias levam a que os Estados-membros da NATO se inclinem a prolongar o mandato de Jens Stoltenberg. “Faz sentido. E ele aceitaria. É um homem que cumpre os seus deveres”, comentou um diplomata ao Financial Times, enquanto um ministro dos Negócios Estrangeiros referiu ao mesmo jornal que o norueguês tem sido um “excelente secretário-geral”. “Não vejo porquê é que deveria abandonar o barco já.”

A identidade do secretário-geral da NATO que assumirá o cargo fica, para já, em aberto. E nem há sequer uma data para os aliados escolherem um novo nome. Ben Wallace disse que a decisão pode ser tomada em Vilnius, a capital da Lituânia que acolhe a cimeira da aliança em julho. Mas também “pode ser em outubro”, mês em que termina o mandato de Jens Stoltenberg.