O secretário-geral adjunto do PS considerou na terça-feira passada que o partido tem assistido a “um ataque muito focado” nos últimos meses, alertando que consiste numa estratégia internacional assumida em conjunto pela direita democrática e a extrema-direita.

Numa intervenção durante a cerimónia de apresentação da revista “O Jovem Socialista”, da Juventude Socialista (JS), que decorreu na Feira do Livro de Lisboa, João Torres quis transmitir “duas mensagens fundamentais” de alerta e vigilância aos militantes do PS.

“Em primeiro lugar, nós não podemos ser ingénuos: aquilo a que estamos a assistir — não apenas em Portugal, mas em todo o mundo — tem sido a um ataque muito focado, muito orientado, muito manietado ao PS, à sua imagem, ao seu legado, à sua governação em termos que, do meu ponto de vista, não são próprios nem aceitáveis em democracia”, considerou.

André Ventura acusa António Costa de “só estar a pensar na sua própria sobrevivência política” e “pôr em causa a verdade”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para o secretário-geral do PS, ao longo dos últimos meses, tem-se verificado “um crescendo retórico” na utilização “de um determinado tipo de linguagem que não é saudável em democracia”, referindo-se em particular às declarações do líder do PSD, Luís Montenegro, que considerou que “o maior problema na política portuguesa é o socialismo”.

Montenegro considera que “maior problema na política portuguesa é mesmo o socialismo”

“Essa estratégia não é inocente e não é uma estratégia que nós devamos encarar como sendo pouco trabalhada ou pouco sofisticada. Isto já aconteceu em vários Estados-membros da União Europeia, já aconteceu no Brasil”, alertou.

Para João Torres, “esta ideia de construir uma narrativa e de disseminar essa narrativa”, quer em relação à história de um partido, quer ao seu presente, é algo que “deve preocupar” os socialistas.

“Faz parte de uma coligação mais ou menos assumida entre forças da direita internacional e democrática e forças de uma extrema-direita que, na verdade, estão a concorrer para um objetivo que é o de, (…) fora daquele que é o plano normal da crítica política, da divergência política, do conflito político, dar verdadeira e efetivamente má fama ao PS”, frisou.

Além deste alerta, o secretário-geral adjunto do PS advertiu também para uma transição de desglobalização que está a ocorrer, e que “decorre em grande medida do contexto geopolítico” atual, referindo-se em particular à invasão da Ucrânia pela Rússia.

João Torres notou que “essa é uma transição que requer muita atenção” e sublinhou que, “comparativamente com há 20 anos”, há atualmente mais de 70% da população mundial a viver em autocracia.

“Durante um determinado tempo, pensou-se que o modelo económico do preço mais baixo e que simultaneamente abrisse os mercados à escala global de forma o mais aprofundada iria disseminar as virtudes da democracia por esses mesmos países. (…) Essa tendência de globalização está hoje a recuar”, disse.

O secretário-geral da JS deu o exemplo do conceito de “autonomia estratégica alargada” da União Europeia e do Inflation Reduction Act (IRA) dos Estados Unidos da América, que considerou ser contrária “a esta ideia de comércio aberto, livre”.

“Chamo a atenção para esta realidade porque isto vai levar a uma profunda transição. Esta ideia que os mercados se vão fechar mais no curto, médio prazo, vai levar a novas tensões geopolíticas”, vincou.

Nesse contexto, João Torres considerou que será necessário defender “os valores da democracia”, salientando que conta com os jovens socialistas para o fazer.