A antiga ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite admitiu esta terça-feira que aprendeu a “desconfiar dos números” e avisou que as informações estatísticas “não resolvem nenhum problema” e podem até ser uma forma de “mascarar a realidade”.

A antiga líder do PSD foi homenageada pela Ordem dos Economistas, numa sessão na qual marcaram presença o ex-Presidente da República Cavaco Silva e várias figuras do PSD como Carlos Moedas, Leonor Beleza, David Justino, Paulo Mota Pinto, Manuel Castro Almeida, Eduardo Catroga, Fernando Negrão, Marques Guedes, além do primeiro vice-presidente do PSD, Paulo Rangel, a quem coube apresentar o seu percurso profissional e cívico.

O Presidente da República associou-se a esta homenagem – que decorreu no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa (ISEG) — através de uma mensagem em vídeo, saudando a “justíssima homenagem”, na qual Ferreira Leite foi distinguida com o título de Economista Emérita.

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“É de elementar justiça que, não apenas o amigo, o admirador, o cidadão, o companheiro de tantas lutas, mas mais do que isso, o Presidente da República se associe a esta homenagem agradecendo em nome de todos os portugueses a sua dedicação constante, fiel e leal ao serviço do nosso país”, frisou Marcelo Rebelo de Sousa.

Na sua intervenção, Manuela Ferreira Leite admitiu que quando escolheu a sua área de formação, a Economia, o fez atraída pela matemática e pelos números.

“Constato que termino a minha vida profissional a desconfiar deles. Cabe-nos a nós, economistas, contrariar que se propaguem verdades enganosas a que frequentemente conduzem os números sem interpretações adequadas e que assim vão minando a credibilidade das instituições“, afirmou.

Sem nenhuma referência direta à vida política nacional, a antiga ministra defendeu que, “se as estatísticas são um instrumento de análise para orientar a política, não resolvem nenhum dos problemas que afetam o bem-estar dos cidadãos”.

“Não são a solução dos problemas, mas podem torná-los numa ilusão. Se a política económica não for ajustada à realidade a que destina (…), se pelo contrário se tenta ajustar a realidade às estatísticas desejáveis, independentemente das consequências sociais, significa que a prioridade, o grande objetivo, é o número mágico”, alertou.

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Para Ferreira Leite, quando as estatísticas “deixam de ser um retrato da realidade, mas a forma de a mascarar”, significa “o contrário de uma política com preocupações sociais”.

Antes, Paulo Rangel traçou rasgados elogios à homenageada, destacando a sua enorme “disponibilidade para servir a causa pública”, e deixando uma “inconfidência” sobre a sua liderança do PSD, num período em que o próprio foi presidente do grupo parlamentar social-democrata.

“Conhecendo bem as suas qualidades políticas, profissionais e pessoais, tendo presente aquela que foi sempre a sua inabalável credibilidade, muitos se perguntaram e me perguntaram porque não teve Manuela Ferreira Leite sucesso como líder da oposição, chegando à chefia do Governo”, afirmou.

A resposta, explicou, chegou-lhe através da releitura de um livro de Agustina Bessa Luís, “O Comum dos Mortais”, em que, sobre uma personagem que quase foi presidente do Conselho, escreveu: “Tenho as qualidades, mas faltam-me os defeitos”.

À saída, Cavaco Silva apenas assinalou a “justíssima homenagem” a Ferreira Leite e o seu orgulho na amizade e trabalho que desenvolveram durante décadas, numa iniciativa em que também marcaram presença o antigo governador do Banco de Portugal Carlos Costa, o ex-ministro Paulo Macedo e o antigo deputado do PS Vítor Ramalho, entre muitos outros.

Licenciada em Economia, pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (atual ISEG), Manuela Ferreira Leite foi secretária de Estado do Orçamento e ministra da Educação nos Governos de Cavaco Silva e ministra das Finanças de Durão Barroso. Em 2008, tornou-se a primeira mulher a chefiar um partido político em Portugal, o PSD, que liderou durante dois anos.

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