Um grupo de sócios do Lar do Comércio, em Matosinhos, lamentou a ausência de respostas da Segurança Social que, numa reunião, desvalorizou a ameaça da direção de entregar a instituição a 31 de agosto devido a dificuldades financeiras.
“A montanha pariu um rato”, afirmou, em declarações à Lusa, Raul Rodrigues, um dos sócios mais antigos do Lar do Comércio, que desde fevereiro tem vindo a denunciar alegados maus-tratos naquela instituição de Matosinhos.
Os associados reuniram-se, ao final da manhã, com o instituto, à procura de respostas sobre a atual situação do Lar do Comércio, cujo presidente, António Bessa, admitiu, a 6 de junho, ser real a possibilidade de “entregar” o lar em 31 de agosto devido a dificuldades financeiras.
À semelhança de reuniões passadas, o encontro não serviu o propósito para que foi agendado, não tendo dele saído qualquer informação sobre as condições em que a instituição se encontra a prestar os cuidados aos idosos ou sobre soluções que permitam a melhoria dos mesmos, e até mesmo a sua manutenção, caso venha a concretizar-se a ameaça da atual direção do lar, considerada pela Segurança Social como um “desabafo”.
Presidente do Lar do Comércio admite “entregar” instituição por problemas financeiros
Aos sócios presentes na reunião também não foi adiantada qualquer informação sobre o projeto apresentado pelo lar que pretende transformar o espaço para permitir uma divisão (80-120) entre utentes comparticipados e utentes privados, projeto que já existe e que António Bessa, “embateu” na Segurança Social.
Segundo Raul Rodrigues, a única garantia deixada pelo instituto público a quem cabe o acompanhamento e fiscalização dos lares de idosos foi a de que a Segurança Social está ali para ajudar a instituição, tal como faz como todas aquelas que acompanha.
A Lusa confrontou a Segurança Social com estas declarações, mas até ao momento sem sucesso.
António Bessa, que assumiu a direção em janeiro de 2021, revelou que a instituição tem um buraco financeiro de mais de um milhão de euros, 150 mil euros/mês, que não consegue solucionar sem a venda de imóveis, cuja venda está a ser contestada judicialmente.
À data, o dirigente defendeu não ser possível “manter as mensalidades” praticadas atualmente pelo lar, confirmando a intenção, avançada dias antes por vários jornais, de aumentar o valor das mensalidades para 1.800 euros.
Reconhecendo que o lar funciona sem licença para Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI) e sem certificado de segurança contra incêndios, António Bessa descreveu um espaço a necessitar de obras de grande dimensão e para as quais, adiantou, são necessários cerca de 20 milhões de euros.
Sócios denunciam que maus-tratos continuam no Lar do Comércio em Matosinhos
Ouvido na ocasião pela Lusa, o grupo de sócios classificou estas declarações como uma forma de pressão, lamentando que a direção não tenha demonstrado abertura para reunir e discutir os problemas da instituição. À data, Raul Rodrigues afirmou que os associados continuam disponíveis para contribuir para a solução, deixando claro que “tudo farão para salvar o Lar do Comércio”.
Também a Lusa já havia solicitado esclarecimentos à Segurança Social sobre a possibilidade avançada pela atual direção de “entregar” a instituição a 31 de agosto, tema sobre o qual o instituto público continua a manter o silêncio.
A 9 de junho, na sequência de questões colocadas pela Lusa, a Inspeção-geral das Atividades em Saúde (IGAS) informou ter determinado a abertura de um processo de inspeção, por suspeitas de maus-tratos, ao Lar do Comércio, sendo que atuação da atual direção está a ser investigada pelo Ministério Público.