Os chefes de equipa das urgências de obstetrícia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, demitiram-se esta sexta-feira. A informação foi inicialmente avançada pela SIC Notícias e entretanto confirmada pela Rádio Observador. A direção clínica do hospital, entretanto, já garantiu que está assegurada a normalidade do serviço.
Em causa estão mais de dez profissionais de saúde, que assinaram a carta de demissão apresentada esta manhã. Recusaram-se a fazer horas extra e queixam-se de terem sido ameaçados pela administração do Santa Maria.
Em declarações à Rádio Observador, a presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) afirma que esta demissão é “um protesto”.
O conselho de administração reuniu-se há dois dias com os médicos. E, de forma prepotente e arrogante, disse-lhes que teriam de devolver o valor das horas extraordinárias do serviço de urgência que fizeram até à data e ameaçou-os com o cancelamento de férias. Posto isto, os chefes e subchefes de equipa optaram por apresentar esta carta de demissão como forma de protesto perante esta atitude”, explica Joana Bordalo e Sá.
A presidente da FNAM adianta que cabe agora ao conselho de administração “resolver a situação” e “devolver a normalidade” ao hospital.
“O hospital de Santa Maria tem problemas muito graves e que estão agora concentrados no serviço de obstetrícia”, remata Joana Bordalo e Sá à Rádio Observador.
Ouça aqui as declarações da presidente da Federação Nacional dos Médicos à Rádio Observador:
Chefes da urgência de obstetrícia do Hospital Santa Maria demitem-se
A notícia da demissão surge poucos dias depois de o diretor de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina de Reprodução do Centro Hospitalar Lisboa Norte, Diogo Ayres de Campos, ter sido exonerado por questionar o projeto de reestruturação no Hospital de Santa Maria e a colaboração com o S. Francisco Xavier.
Direção clínica do garante normalidade do serviço
A direção clínica do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte anunciou que “assume as suas competências” e garante a normalidade da atividade do Serviço de Obstetrícia do Hospital Santa Maria, “não devendo haver qualquer receio por parte da população”.
Os médicos que integram a Direção Clínica do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) adiantam em comunicado que realizaram hoje uma reunião extraordinária para analisar a carta de demissão de cinco chefes de equipa da urgência de Obstetrícia e Ginecologia do centro hospitalar, que integra os hospitais de Santa Maria e Pulido Valente.
“A Direção Clínica do CHULN assume as suas competências e garante a normalidade da atividade do Serviço de Obstetrícia, incluindo a sua Urgência, não devendo haver qualquer receio por parte da população em relação a este serviço diferenciado”, afirma no comunicado.
Sublinha ainda que “tem a certeza que os obstetras continuarão a prestar, com total profissionalismo, os melhores cuidados às grávidas e crianças atendidas no Hospital de Santa Maria”.
Os médicos lembram que “a instituição está comprometida com o projeto da nova maternidade do Hospital de Santa Maria, estruturante para o Serviço Nacional de Saúde e para o CHULN, e que visa corresponder às necessidades da população em termos de cuidados materno-infantis”.
Ministro garante “pleno funcionamento”
O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, garantiu esta sexta-feira que as “divergências de opinião” são “normais” em democracia e que o Hospital de Santa Maria está em “pleno funcionamento” para receber mulheres grávidas.
“Devo dizer que confio absolutamente, não apenas nas qualificações técnicas, mas também nas qualidades humanas e no compromisso ético de todos os meus colegas do SNS”, disse aos jornalistas. “É preciso que as pessoas tenham a tranquilidade de saber que, independentemente de haver divergências de opinião, e de essas divergências de opinião terem uma expressão pública, que acho que é normal numa sociedade democrática, a maternidade do Santa Maria está em pleno funcionamento para acolher as senhoras que precisem de a ela recorrer.”
Pizarro assegurou também que ” o assunto está a ser tratado com o rigor e o cuidado que merece, entre a direção clínica e os profissionais do Hospital de Santa Maria”.
“O que é preciso é que a opinião pública saiba que está tudo a funcionar como deve funcionar e que o Hospital de Santa Maria lá está de braços abertos para acolher as pessoas”, assinalou o ministro.
Manuel Pizarro também sublinhou que “todo este debate começa com a necessidade de mudanças organizavas por causa de uma belíssima notícia”.
“Ao fim de décadas de espera vai ser realizado um forte investimento na maternidade do Santa Maria, transformando aquele bloco de partos, dando condições de conforto, de segurança e de qualidade ainda superiores àquelas que ele tem hoje”, disse o ministro.
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