A comissão de inquérito à TAP continua a provocar ondas de choque, mesmo entre socialistas. Desta vez foi a deputada e ex-ministra Alexandra Leitão que se veio demarcar das críticas do ministro Pedro Adão e Silva aos deputados que participaram na comissão, arrasando as palavras “francamente infelizes” do responsável da Cultura.
No programa Princípio da Incerteza, da CNN, Alexandra Leitão não se inibiu de criticar o governante. “Foram declarações francamente infelizes para um ministro da República”, começou por disparar, sugerindo que Adão e Silva se sentiria menos à vontade para criticar os deputados se o PS estivesse em minoria: “São declarações que um ministro não faria se não tivesse maioria absoluta, o que também nos deve levar a pensar”, frisou.
E, depois de recordar que apesar das baterias que o PS tem apontado a comentadores, jornais e oposição, muitas das “circunstâncias mais complexas” que aconteceram na comissão tiveram a ver com problemas que aconteceram “no quadro do próprio Governo”, Leitão rematou defendendo que as declarações de Adão e Silva “contribuíram muito pouco para a saúde das instituições democráticas”. A antiga ministra esclareceu assim que se revê “inteiramente” na posição do também socialista e presidente da comissão António Lacerda Sales, que já veio pedir uma retratação ao ministro.
O conflito entre socialistas começou este fim de semana e o gatilho foi uma entrevista de Adão e Silva à TSF e ao Jornal de Notícias em que o ministro tecia duras críticas a deputados que integraram a comissão, ironizando mesmo com o papel de “procuradores do cinema americano da série B da década de 80” que alguns teriam desempenhado.
Na mesma entrevista, Adão e Silva dizia que a “degradação do ambiente político” que diz estar a verificar-se não é “independente de coisas como aquelas que se passaram” na comissão, falando depois até numa degradação da própria democracia.
Na sequência das declarações de Adão e Silva, António Lacerda Sales apressou-se a reagir, classificando as declarações do ministro como “uma falta de respeito” e “uma caraterização muito injusta” do trabalho dos deputados e pedindo que se retratasse. “Relembro que o Governo responde ao Parlamento. Nenhum político está isento de respeitar as instituições, por maioria de razão o Parlamento, especialmente os ministros”, frisou Lacerda Sales.
Agora, é Leitão quem se junta às críticas ao ministro. No mesmo programa de comentário, a ex-ministra considerou que os acontecimentos de 26 de abril no ministério das Infraestruturas — o dia em que houve acusações de agressão no ministério das Infraestruturas e em que as secretas foram chamadas a recuperar o computador do ex-adjunto de João Galamba — deveriam ter sido refletidos no relatório da comissão, escrito pela socialista Ana Paula Bernardo, ainda que só na parte “factual” do texto e não nas conclusões.
Para Alexandra Leitão, o relatório é “rigoroso” mas poderia incluir conclusões mais “valorativas”.
Como o PS tenta desativar bomba TAP e afastar consequências políticas (por agora)
As declarações de Adão e Silva surgem numa altura em que os socialistas têm mostrado vontade de virar a página das polémicas da TAP e, mesmo que muitas tenham sido autoinfligidas, culpam comentador e oposição pelo suposto “empolamento” dos casos que foram surgindo nos últimos meses, afastando, para já, retirar consequências políticas.