No que ao desporto diz respeito, o jogo foi extraordinário. Elina Svitolina, que só voltou ao ténis há três meses e depois de ter sido mãe, venceu Victoria Azarenka em três sets e apurou-se para os quartos de final em Wimbledon. Ou seja, uma tenista com um wildcard venceu a número 20 do mundo. Desporto à parte? Uma tenista ucraniana venceu uma tenista bielorrussa.

Elina Svitolina tem sido das atletas mais vocais e diretas sobre a guerra na Ucrânia, deixando claro que não irá cumprimentar qualquer adversária russa ou bielorrussa até que as tropas da Rússia saiam do país onde nasceu. E manteve a postura em Wimbledon, não respondendo ao breve aceno de Azarenka no momento em que ganhou a partida e dirigindo-se de imediato ao banco sem passar pela rede. A novidade, este domingo, foi que a própria Azarenka também não foi à rede, por já saber que não teria companhia — algo que lhe valeu apupos e assobios por parte das bancadas do Grand Slam britânico.

A tenista bielorrussa ainda esboçou uma reação ao que estava a ouvir, abanando a cabeça com um sorriso irónico, mas deixou a larga maioria dos comentários para a entrevista pós-jogo, onde não se escusou a dizer que o episódio era “injusto”. “Conheço a Elina há muito tempo. Sempre tivemos uma boa relação. Nestas circunstâncias… É o que é e acabou. Não posso controlar as bancadas. Não tenho a certeza de que muitas das pessoas entendam o que está a passar, acho que beberam muito Pimms [uma marca britânica de gin] durante o dia”, começou por dizer Azarenka, que já conquistou o Open da Austrália em duas ocasiões.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Ela não quer cumprimentar russos e bielorrussos. Eu respeito a decisão dela. O que é que podia fazer? Ficar e esperar? Nada que eu fizesse seria certo, fiz aquilo que achei que mais respeitava a decisão dela. É uma vergonha que as pessoas só se preocupem com cumprimentos, que uma multidão bêbeda assobie no fim do jogo”, atirou a tenista de 33 anos.

“Não é fácil ver a minha mulher a chorar todas as noites”: Monfils ganhou a Medvedev mas quer sobretudo apoiar Svitolina

Já Elina Svitolina, que vai agora defrontar Iga Swiatek na próxima ronda, procurou passar ao lado da polémica — ainda que tenha reconhecido que defrontar uma russa ou bielorrussa tem sempre um impacto diferente. “Claro que sinto uma pressão maior. É por isso que significa tanto para mim conseguir este tipo de vitórias. É a minha maneira de dar uma pequena vitória à Ucrânia”, começou por dizer também na entrevista pós-jogo, antes de revelar que ganhou forças ao pensar no que se passa no próprio país.

“Tentei pensar em casa, nas pessoas que estavam a ver e a apoiar-me. Sei o quanto isto significa para eles. Qualquer momento de felicidade que possam ter é muito importante. A Ucrânia está a passar por momentos muito difíceis e eu estou aqui a jogar, não me posso queixar. Só tento ganhar cada ponto”, concluiu.