Um modelo de política territorial baseado na criação de Áreas de Acolhimento Agrícola nas zonas periféricas dos aglomerados habitacionais e industriais, para proteção contra incêndios, é defendido no projeto WinBio, liderado pelo centro de inovação BLC3.
De acordo com o WinBio — que é liderado pela associação BLC3, de Oliveira do Hospital, em parceria com mais cinco entidades de regiões interiores e rurais — essas Áreas de Acolhimento Agrícola funcionariam “como um anel tampão (proteção) entre as florestas produtivas incluindo os matos e incultos) e os aglomerados habitacionais e zonas industriais”.
“Temos muitos problemas associados à valorização da terra e que originam uma perda da atividade económica, tornando-nos cada vez mais vulneráveis aos incêndios”, lembrou o presidente da BLC3 — Campus de Tecnologia e Inovação, João Nunes.
No seu entender, há também “uma sociedade cada vez mais com menos vontade de trabalhar na terra, fazer calos e com uma vontade imaginária de que a terra pode dar rendimento sem trabalho, dedicação, conhecimento e tecnologia”.
“Temos de tornar a agricultura mais competitiva, pois não faz sentido que a maior parte do ano o trator e as alfaias agrícolas estejam parados e sem uso e que existam pessoas que querem investir na agricultura e não têm acesso à terra”, considerou.
Neste âmbito, João Nunes defendeu que são necessários “modelos partilhados” e “comunidades para acelerar o crescimento agrícola profissional e com escala de solo viável”.
O responsável afirmou que é preciso “fazer crescer mais a atividade económica agrícola, em benefício de uma bioeconomia e de um país cada vez menos dependente dos mercados externos e mais preparado e protegido contra os grandes incêndios que atingem habitações e edifícios industriais”.
Se o incêndio da Serra da Estrela “representou uma área ardida de 24 mil hectares em 11 dias”, o incêndio que, em 2017, afetou Oliveira do Hospital consumiu “uma área similar, de 22,6 mil hectares, em seis horas”, só neste concelho do distrito de Coimbra.
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“São realidades muito diferentes e sem comparação em termos de comportamento de incêndio”, disse João Nunes, alertando que “é urgente preparar, a curto prazo, a capacidade de proteção das habitações, indústrias e pessoas contra incêndios” como os ocorridos em 2017.
O projeto defende que, tal como no passado se criaram zonas industriais, que modificaram a lógica urbanística e criaram “outras condições para fixar e localizar de forma correta as indústrias”, o mesmo é possível fazer no setor agrícola, “com grandes vantagens económicas e de proteção e resiliência dos edifícios aos incêndios”.
“As Áreas de Acolhimento Agrícola seriam infraestruturas de lotes, com estruturas e meios centrais de uso partilhado e apoio técnico ao agricultor”, explicou.
Desta forma, seria permitido “o acesso à terra para quem quer investir, diminuindo o investimento na aquisição da terra, e que cada lote tenha o mínimo de área viável ao desenvolvimento da atividade agrícola (devido ao problema do minifúndio), acesso a equipamentos e alfaias agrícolas, sistemas de rega mais eficientes e outros serviços de suporte e de comunidade”.
Em termos urbanísticos, “seriam dois anéis para culturas anuais e permanentes”, sendo o primeiro (o mais próximo da zona habitacional) “de culturas anuais, para permitir, sempre que necessário, a expansão de edificados”, e o segundo de culturas permanentes.
Neste projeto, a BLC3 tem parceria com a Associação Centro de Apoio Tecnológico Agro-Alimentar, o Collaborative Laboratory Towards Circular Economy, o Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Alentejo, o Food4Sustainability CoLAB e o TagusValley Parque de Ciência e Tecnologia e o apoio do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (COMPETE2020).