As autoridades italianas pediram ao navio da Open Arms que resgatasse dezenas de migrantes em perigo na rota do Mediterrâneo Central, divulgou hoje a organização não-governamental (ONG) espanhola.
“Enquanto o (navio) Open Arms dirigia-se para o porto de Civitavecchia, recebeu instruções das autoridades italianas para intervir em vários outros casos de embarcações em perigo”, escreveu a ONG nas suas redes sociais.
Este pedido das autoridades italianas, aparentemente motivado pelo grande número de embarcações com migrantes a bordo à deriva no Mediterrâneo, é invulgar, uma vez que as ONG de regaste humanitário tornaram-se um dos alvos das medidas anti-migração aplicadas pelo Governo da primeira-ministra Giorgia Meloni.
A atribuição de portos distantes do local de resgate, por vezes a vários dias de viagem, é uma prática comum do executivo italiano.
No início do ano, o Governo liderado por Meloni, uma coligação de direita e extrema-direita, promulgou um decreto sobre migração que também impede as embarcações humanitárias de efetuarem mais do que um salvamento na sua viagem, razão pela qual várias organizações já foram sancionadas.
O navio “Open Arms”, para o qual tinha sido atribuído o porto de Civitavecchia, perto de Roma, a mais de três dias da zona onde havia resgatado 24 pessoas na quarta-feira, desviou-se da sua rota para realizar uma segunda operação de salvamento.
“Portanto, o navio Open Arms realizou um segundo resgate de 46 pessoas, incluindo 11 mulheres e duas crianças que viajavam num barco em condições muito precárias”, explicou a ONG.
“Agora estão todos a salvo a bordo do nosso velho rebocador juntamente com as 24 pessoas que o nosso navio recebeu na quarta-feira”, acrescentou a organização espanhola, antes de sublinhar que há “tantas embarcações à deriva no mar que precisam de ajuda e salvamento”.
Algumas horas antes, a tripulação do veleiro Astral, também da Open Arms, resgatou 67 pessoas em perigo, entre as quais uma grávida em trabalho de parto, e transferiu-as para a ilha de Lampedusa, no sul de Itália, a pedido das autoridades italianas.
O Astral, que costuma socorrer migrantes em perigo no mar até que sejam resgatados para um navio mais adequado, recebeu instruções neste caso para os levar para Lampedusa, o território italiano mais próximo da costa africana.
Fontes da ONG espanhola disseram à agência de notícias EFE que quando o Astral chegou a Lampedusa, a mulher ainda não tinha dado à luz e que ainda não sabiam o estado de saúde da mãe ou da criança.
De acordo com os últimos dados do Ministério do Interior italiano, entre o início do ano até 2 de agosto, 89.427 migrantes desembarcaram na costa italiana, mais do dobro dos 42.198 registados no mesmo período no ano passado.
Itália, a par da Grécia, Espanha ou Malta, é um dos países da “linha da frente” ao nível das chegadas de migrantes irregulares à Europa.
O país está integrado na chamada rota do Mediterrâneo Central, encarada como uma das mais mortais, que sai da Tunísia, Argélia e da Líbia em direção ao território italiano, em particular à ilha de Lampedusa, e a Malta.