A mais de 15 mil quilómetros de distância de Joanesburgo, sentado no Grande Palácio do Kremlin, o Presidente russo, Vladimir Putin, discursou perante os Chefes de Estado de países membros do BRICS (Brasil, Índia, China e África do Sul) e justificou mais uma vez o motivo pelo qual decidiu invadir a Ucrânia: “As nossas ações são ditadas apenas por uma coisa: tentar pôr fim à guerra desencadeada pelo Ocidente e pelos seus satélites na Ucrânia contra as pessoas que vivem no Donbass”.

“A Rússia decidiu apoiar o povo do Donbass que estão a lutar pela sua cultura, pelas suas tradições, pela sua linguagem, pelo seu futuro”, reforçou Vladimir Putin, num discurso citado pela agência de notícias RIA, agradecendo que os quatro países tenham apresentado propostas para resolver a guerra. “Estamos gratos aos nossos colegas dos BRICS que estão a desempenhar um papel ativo em tentar acabar com esta situação e alcançar um acordo justo por meios pacíficos.”

No discurso, Vladimir Putin aproveitou para apresentar outra das suas bandeiras na comunidade internacional, que é partilhada pelos restantes membros do BRICS: uma “nova ordem multipolar”. “A principal coisa que estamos todos a favor consiste na formação de uma ordem mundial multipolar que seja verdadeiramente justa e baseada no direito internacional, respeitando a carta das Nações Unidas, incluindo o direito de cada povo em escolher o seu modelo de desenvolvimento.”

Deixando críticas ao “neocolonialismo” do Ocidente, o Chefe de Estado da Rússia falou em nome dos restantes membros dos BRICS e salientou que todos “eram contra qualquer tipo de hegemonia promovida por alguns países que querem ver exclusivamente continuar com a política neocolonial”. 

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Para esta nova ordem mundial, os BRICS são essenciais, reforçou Vladimir Putin. “Os cinco países estabeleceram-se na arena global como uma estrutura com força”, notou o Presidente russo, prometendo que Moscovo irá intensificar os esforços para fortalecer as relações com os quatros Estados-membros.

No final do seu discurso, Vladimir Putin lembrou que cabe à Rússia assumir a presidência dos BRICS no próximo ano. E convidou o líderes dos quatro países para uma cimeira em 2024, que deverá ocorrer na cidade de Kazan.

Lula lamenta regresso “da mentalidade obsoleta” da Guerra Fria

Antes do discurso de Vladimir Putin, o Presidente brasileiro também interveio na cimeira dos BRICS. Citado pela CNN Brasil, o Chefe de Estado lamentou que se tenha voltado “à mentalidade obsoleta da Guerra Fria e e da competição geopolítica”.

“Essa é uma insensatez, que gera grandes incertezas e corrói o multilateralismo. Sabemos bem onde esse caminho pode nos levar”, afirmou Lula da Silva.

Deixando várias críticas ao conflito na Ucrânia, Lula da Silva lembrou que a guerra tem “efeitos globais”. “Não subestimamos as dificuldades de alcançar a paz”, reconheceu, ainda que tenha dito que o Brasil está “pronto” para se “juntar a um esforço que possa efetivamente contribuir para um cessar-fogo e uma paz justa e duradoura”.

Adicionalmente, o Presidente brasileiro salientou que a guerra na Ucrânia “evidencia as limitações do Conselho de Segurança da ONU”.