“Sound of Freedom”, um dos mais polémicos filmes dos últimos tempos e um dos maiores êxitos de bilheteira do ano nos EUA, continua a gerar debate. O realizador do filme, que tem sido acusado de ter associado a teorias da conspiração de extrema-direita, saiu em defesa da obra, negando quaisquer ligações a movimentos extremistas e classificando algumas das reações que tem recebido como “de partir o coração”.

A obra, baseada na história de Tim Ballard, um ex-agente dos serviços de segurança que fundou a Operação Underground Railroad — uma organização sem fins lucrativos destinada a combater o tráfico sexual –, tem sido criticada pela sua alegada proximidade com a conspiração do QAnon, que ganhou proeminência nos últimos anos. Em termos gerais, os defensores desta teoria da conspiração acreditam que as elites políticas e celebridades associadas ao Partido Democrata fazem parte de uma cabala satanista e pedófila que opera uma rede massiva de tráfico de crianças.

Uma ideia que, de acordo com o realizador Alejandro Monteverde, não podia estar mais longe da verdade. “O filme não é baseado na conspiração do QAnon”, garantiu o cineasta durante uma exibição especial de “Sound of Freedom” em Londres, no Reino Unido, na passada quinta-feira. Monteverde, que é também co-argumentista do filme, sublinhou que o guião começou a ser escrito em 2015, anos antes do aparecimento da conspiração, e defendeu não poder controlar quem são os fãs do filme:

Tudo o que tiver um ângulo político vai dividir. Quando um realizador faz um filme, não há nenhum contrato sobre o que as pessoas vão dizer sobre ele depois”, defendeu, citado pelo The Guardian.

O filme tem vindo a tornar-se uma espécie de “bandeira” para muitos conservadores nos EUA, que alegam que as grandes cadeias de cinema querem impedir que este seja visto pelo público. A sua popularidade — e protagonismo nas chamadas “guerras culturais” — é tal que o ex-Presidente Donald Trump organizou uma exibição especial para apoiantes seus no seu clube de golfe, em Nova Jérsia.

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Ao mesmo tempo, a Angel Studios, uma distribuidora de filmes de teor religioso, tem sido acusada de tentar deliberadamente promover-se junto de um público conspiracionista. O protagonista do filme, o ator Jim Caviezel, tem marcado presença em vários eventos organizados pelo QAnon e ecoado algumas das teorias do movimento em eventos promocionais. Também Tim Ballard (que Caviezel interpreta) mantém alegadamente ligações ao movimento.

Caviezel e Ballard estiveram presentes na sessão organizada por Trump, mas Monteverde não. O realizador desresponsabilizou-se dos comentários mais polémicos feitos pelo protagonista do filme, garantindo que não refletem a sua própria opinião. “Contrato pessoas para trabalhar no meu filme. O que eles fazem depois é com elas. Se concordo com tudo o que fazem depois? Claro que não”. Anteriormente, o cineasta admitiu, em entrevista à revista Variety, que alguns dos comentários feitos pelos seu protagonista “prejudicaram” o filme e que, por isso, tem tentado manter-se à distância de quaisquer ligações políticas mais diretas.

Certo é que o filme continua a ser um caso de sucesso na bilheteira norte-americana. Até ao momento, “Sound of Freedom” é o 10.º filme mais rentável do ano nos EUA, tendo lucrado mais do que blockbusters como “Indiana Jones e o Marcador do Destino” ou “Missão: Impossível – Ajuste de Contas Pt 1”. Nas próximas semanas será lançado em alguns países europeus, sendo que em Portugal não foi, até ao momento, anunciada qualquer data de lançamento.