O ministro da Cultura pediu à IGAC que se desloque ao edifício Monumental, em Lisboa, para perceber o estado em estão as salas de cinema, encerradas em 2019, cuja desafetação à atividade cinematográfica foi pedida pela proprietária do espaço.

“Para apurar alguma informação divergente que existe sobre o estado efetivo das salas, terminado este período de receber respostas, pedi à IGAC [Inspeção-Geral das Atividades Culturais] que muito brevemente se desloque ao espaço para verificar ‘in loco’ o estado daqueles cinemas”, disse esta quinta-feira o ministro Pedro Adão e Silva, em declarações à Lusa e ao Público, em Lisboa, à margem do encontro internacional Book 2.0, organizado pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL).

No fim de julho, o Observador noticiou que a Merlin Propreties, atual proprietária do edifício Monumental, no Saldanha, não via “viabilidade em reabrir o cinema” que ali continua a existir, “entre o forte investimento que é necessário fazer no espaço e o momento difícil que o setor atravessa”. Semanas depois, o Ministério da Cultura confirmava ao Observador que tinha recebido um pedido de desafetação por parte da Merlin Properties, que estava a auscultar o setor antes de tomar uma decisão e que tinha pedido “esclarecimentos adicionais à proprietária do edifício”.

O inquérito dirigido às entidades com assento na SECA (Secção Especializada do Cinema e do Audiovisual, do Conselho Nacional de Cultura) terminou a 31 de agosto.

Nas declarações esta quinta-feira, o ministro referiu que é “preciso apurar” o estado em que se encontram as salas. “Porque valores de recuperação são muito díspares”, referiu.

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O ministro revelou que já tem “algumas respostas” e que o seu gabinete recebeu esta quinta-feira os proprietários do edifício. Pedro Adão e Silva sublinhou que não irá definir uma data para dar resposta ao pedido da Merlin Properties.

“O pedido de desafetação chegou muito recentemente e é uma situação sensível. Não é uma decisão que se tome de forma ligeira, precipitada e rápida”, disse. O ministro recordou que “qualquer solução depende da vontade partilhada dos proprietários e eventualmente de investidores”.

MC quer “cinemas com porta para a rua”

Pedro Adão e Silva salientou a necessidade de a cidade “ter cinemas, cinemas com porta para a rua, que garantam a diversidade da programação”. “Essa é a minha preocupação enquanto ministro”, afirmou.

“O meu desejo é que haja mais salas de cinema e que garantam diversidade e pluralidade da oferta cultural”, disse, nomeando o exemplo do Cinema Batalha, no Porto, reaberto recentemente, que “tem sido um caso de sucesso do que é ter uma sala alternativa com público”.

Na terça-feira, num texto de opinião publicado no jornal Público, 21 profissionais do setor, que representam, entre outros, a Associação de Produtores Cinema e Audiovisual, a Associação Portuguesa de Realizadores, os festivais DocLisboa, IndieLisboa e Curtas de Vila do Conde, as produtoras Midas Filmes, O Som e a Fúria e Alambique, e a exibidora Cinemas Castello Lopes, apelaram para que a desafetação das salas do Monumental não seja autorizada.

Os signatários lembraram que “o país, e Lisboa em particular, tem uma gritante falta de cinemas, e sobretudo de cinemas que não sejam apenas lojas anónimas de centro comercial”, e alertaram que, “com a situação do imobiliário na capital e um pouco por todo o país, qualquer espaço que se perca para o cinema (e para a cultura) será um dano irreparável”.

“Que finalmente exista uma política para o cinema que coloque o problema (da ausência) das salas de cinema no centro das suas preocupações”, lia-se no texto.

O Cinema Monumental, com quatro salas, encerrou em setembro de 2019, por causa das obras de remodelação no edifício, localizado no Saldanha. Na altura, o cinema era explorado pela exibidora Medeia Filmes, do produtor Paulo Branco.

As quatro salas do cinema Monumental existiam num edifício de comércio e escritórios que foi inaugurado em 1993 no mesmo espaço onde antes tinha funcionado o antigo, e icónico na cidade, Cine-Teatro Monumental. Em julho deste ano, a empresa garantiu ao Observador que os espaços do cinema “permanecem vazios e atualmente não são utilizados”. O edifício acolhe agora os escritórios do banco BPI.