Pintado no início do século XVII e roubado pelos nazis na Segunda Guerra Mundial, o “Sermão da Montanha” é um dos enigmas artísticos da história. Apesar de não fazer parte da coleção de 1.400 obras de arte descobertas, em 2012, na casa de Cornelius Gurlitt, o filho de Hildebrand Gurlitt, um colecionador de arte que fazia alguns trabalhos para o regime nazi, há mais de 20 anos que se investiga a sua origem. Até hoje, sabe-se pouco, mas em tempos a propriedade foi assumida por Adolf Hitler.

A pintura da autoria de Frans Francken, o Jovem (pintor nascido em Antuérpia no final do século XVI), que mostra Cristo a discursar para um grupo de pessoas num cenário de céu nublado, será leiloada pela casa Neumeister Auctions, situada em Munique, na Alemanha, a 21 de setembro. Já a investigação para averiguar o seu primeiro comprador está longe de terminar.

Nos últimos anos, a pesquisa pelo passado das obras roubadas pelos nazis ou desaparecidas durante a Segunda Guerra Mundial tem evoluído rapidamente. Já foram desenvolvidas diversas teses e muitas outras investigações, tendo até surgido empresas dedicadas a encontrar herdeiros das mesmas. Mas é uma tarefa que enfrenta vários obstáculos.

“Pode ser muito difícil encontrar os herdeiros no contexto do Holocausto”, confessou Nikola Doll, investigadora do Kunstmuseum de Berna, na Suíça, ao The New York Times. “Alguns dos herdeiros diretos não sobreviveram e os herdeiros legais costumam ser familiares mais distantes, espalhados pelo mundo, que não têm conhecimento dos bens dos seus antepassados. Pode até acontecer que não se encontrem herdeiros.”

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Já no que diz respeito à pintura “Sermão da Montanha”, é sabido de que foi comprada por Hildebrand Gurlitt, em 1943. Apesar de a identidade do vendedor permanecer desconhecida, sabe-se que seria “um intermediário com quem fazia negócios frequentemente”.

Ainda assim, a pintura acabou por não aterrar na casa de Gurlitt, localizada na França ocupada pela Alemanha. Em vez disso, foi destinada ao Führermuseum, o museu que Hitler queria construir em Linz, na Áustria. No entanto, no final da guerra, a obra foi armazenada em Munique, juntamente com outras 1.500 que seriam expostas nesse museu, tendo sido mais tarde roubada durante a confusão dos últimos dias da guerra.

Apesar de ter sido recuperado semanas depois, o quadro só voltou a aparecer para o público em 2009, após aparecer num programa de televisão. Por sorte, o historiador Stephan Kligen, que se dedica à pesquisa do passado das obras, era um dos espectadores, e alertou a polícia que esta tinha sido uma das que foram roubadas a Hitler, no final da guerra.

“Não sabemos se foi roubada pelos nazis ou se apenas um dos negócios de Gurlitt. A pesquisa tem sido inconclusiva, mas têm-nos levados a fontes em França”, disse ao mesmo jornal.

O governo alemão ainda tentou retomar a posse do quadro, mas o tribunal acabou por concedê-la à herdeira da última família que o tinha comprado, a cuidadora de um soldado alemão. Há nove anos, a mulher de 80 decidiu recorrer à casa de leilões em Munique, para que a obra fosse leiloada, afirmando “não estar disposta a esperar” pelo fim da investigação: “Ela já se mudou para um lar de idosos e não quer que este problema fique para os seus filhos”, explicou o advogado, Patrick Rosenow.

O leilão acontece oficialmente a 21 de setembro e ainda não se tem informação sobre quanto poderá valer a obra. Algumas avaliações estimam um custo de 120 mil euros (aproximadamente 130 mil dólares, tendo em conta a taxa de câmbio atual) e outras apontam para metade desse preço. Já a proprietária gostava mesmo que a obra fosse comprada por museus.