“Aqui é a minha casa”, afirma Hahcen, sobre um monte de escombros, na vila turística de Ouirgane, perto do epicentro do sismo que atingiu Marrocos na passada sexta-feira. Hahcen perdeu a mãe no terramoto. A casa onde vivia, com mais quatro pessoas, ficou reduzida a destroços, tal como outras duas habitações de vizinhos.

A poucos metros, cinco pessoas de uma outra família juntam-se, em círculo, sobre o que restou da sua casa. Um homem idoso, uma mulher e uma jovem choram. “Ontem tiraram dois corpos”, relata Hahcen. No total, naquelas três casas, morreram cinco pessoas. “Está tudo destruído aqui“, diz o jovem. Nesta terça-feira prosseguiam ali operações para resgatar cinco corpos soterrados.

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Junto à estrada, a movimentação é grande: retro-escavadoras retiram os escombros, param camiões militares carregados de material, e várias viaturas transportam ajuda para a população afetada. Elementos da Gendarmaria procuram organizar o trânsito.

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Foram instaladas duas unidades de saúde móveis, com quatro consultórios. No exterior, cerca de 20 pessoas aguardavam a sua vez para serem atendidas. “Aqui temos todos os dispositivos médicos, medicamentos. Atendemos urgências, doenças crónicas”, explica à Lusa uma responsável do Ministério da Saúde marroquino.

A funcionária adiantou que ainda há aldeias nas montanhas que estão inacessíveis por estrada e, por isso, o ministério está a enviar equipas médicas em helicópteros da Força Aérea Real. “Não podem entrar no centro da vila, é muito perigoso”, avisa um guarda, numa referência às casas que ruíram e outras que ficaram muito danificadas pelo abalo.

Ouirgane, no Alto Atlas (sul de Marrocos), às portas do parque nacional do Toubkal — a montanha mais alta do norte de África, com 4.167 metros — e junto a uma barragem, “era uma vila turística, mas agora não”, lamenta Emnouany.

Momentos antes, o homem saíra de uma casa de dois andares pela janela: “Era a minha casa e a minha loja, um pequeno supermercado, tinha quatro metros. São 20 anos de trabalho que acabaram“. A porta de entrada ficou inacessível e as fundações do edifício estão praticamente destruídas. “Não tenho dinheiro para recuperar a casa”, diz.

Nesta vila, morreram cerca de 60 pessoas e “houve muitos feridos, foram levados para os hospitais em Marraquexe”. A povoação é uma das mais afetadas pelo sismo, registado às 23h11 (mesma hora em Lisboa) de sexta-feira, que causou mais de 2.800 mortos e acima de 2.500 feridos, de 7,0 na escala de Richter, segundo o Instituto Nacional de Geofísica de Marrocos — o Serviço Geológico dos Estados Unidos registou uma magnitude de 6,8.

“O meu coração está partido”, diz Anfat Dihaj, uma bióloga que vive em Rabat e que regressou à sua terra para ver como estão as casas da família e que distribuía medicamentos nesta terça-feira. A mãe da Anfat explorava ali um hotel, mas “está tudo partido”, tal como as casas dos seus familiares. “Uma mulher que estava grávida teve um aborto e a mãe morreu, mas a bebé de um mês sobreviveu”, conta.

Mais perto da barragem, um pátio alberga agora 25 pessoas de três famílias. Mantas, colchões, um frigorífico — desligado, porque não há eletricidade —, um sofá, mesas, um fogão a gás e muitos sacos com pertences compõem o cenário. Ao lado, as casas onde viviam. “Caiu tudo lá dentro”, conta Ahmid, e desde sexta-feira que dormem ao relento.

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“Faz frio à noite, por isso temos muitos cobertores”, afirma. Só nesta terça-feira de manhã lhes foram entregues umas tendas, que estão presas ao chão, mas o vento fez levantar a base. “Não sabemos como as montar”, diz uma jovem, Hajar, 17 anos, que descreve que teve de partir portas para conseguir retirar os familiares do interior da casa. Apesar de tudo, o tio alegra-se: “Deus protegeu-nos quando saímos da casa”.

À pergunta se é difícil viver naquelas condições, Hajar esboça um sorriso e responde: “Estamos vivos, então…”.