O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu esta sexta-feira aos países do Sul Global para “elevarem a sua voz por um mundo que funcione para todos”, dizendo que os sistemas mundiais estão em falência.
Ao discursar na abertura da cimeira do Grupo dos 77 e da China — que começou esta sexta-feira em Havana e que procura reforçar a cooperação entre os seus 134 membros, principalmente nações da América Latina, África, Médio Oriente e Ásia, em ciência, tecnologia e inovação — Guterres apelou a uma nova atitude por parte dos países do hemisfério sul.
Estamos enredados num emaranhado de crises globais. A pobreza está a aumentar e a fome está a aumentar. Os preços estão a disparar, a dívida é exorbitante e os desastres climáticos estão a tornar-se mais frequentes. Os sistemas e quadros globais falharam. A conclusão é clara: o mundo está a falhar para com os países em desenvolvimento“, defendeu o secretário-geral da ONU.
Por esta razão, argumentou Guterres, o apoio do G77+China é necessário para várias iniciativas que estão a ser levadas a cabo no âmbito das Nações Unidas em termos de governação global, alterações climáticas e desenvolvimento tecnológico.
Para mudar esta situação, precisamos de medidas a nível nacional que garantam a boa governação, mobilizem recursos e deem prioridade ao desenvolvimento sustentável. E precisamos de medidas a nível global que respeitem a apropriação nacional, com vista à construção de um sistema internacional que defenda os direitos humanos”, explicou Guterres.
Na área económica, Guterres apelou à “justiça financeira”, com medidas urgentes, alegando que há “muitos países incapazes de pagar a sua dívida” devido aos efeitos da pandemia, da inflação global e “do impacto dos fenómenos climáticos extremos”.
O líder das Nações Unidas considerou necessário “criar rapidamente um mecanismo eficaz de alívio da dívida“, dizendo que as mudanças atualmente propostas estão a avançar, “mas demasiado lentamente”.
Guterres mostrou-se confiante de que a ciência, a tecnologia e a inovação “podem forjar a solidariedade” e “resolver problemas comuns”, mas avisou que “muitas vezes agravam as desigualdades e consolidam as divisões”.
Só a ação global pode resolver estas desigualdades, garantir uma transição justa para uma economia digital e garantir que, numa nova era tecnológica, ninguém seja deixado para trás”, concluiu o secretário-geral da ONU.
Guterres apelou ao G77+China para que desempenhe um “papel de liderança” nos diferentes fóruns multilaterais onde estas mudanças estão atualmente a ser debatidas e que os seus membros coloquem os seus interesses “de forma firme sobre a mesa” nestes debates.