A Galeria Zé dos Bois vai passar a ter uma segunda casa fora do Bairro Alto, no lado oriental da cidade. A partir desta quarta-feira, o novo espaço da emblemática associação cultural é apenas uma das várias novidades do 8 Marvila, projeto independente que se instala nos 22 mil metros quadrados dos antigos Armazéns Vinícolas Abel Pereira da Fonseca, na Praça David Leandro da Silva, em Marvila.

A Galeria Zé dos Bois arranca com a performance Woyzeck Fuck’em’ol!, de Cláudio da Silva, Carolina Dominguez e Pedro Paiva. No mesmo dia, abre no segundo piso a discoteca Outra Cena. Em breve, segue-se uma sala de concertos com lotação para 1500 pessoas e galerias de arte, entre elas a Because Art Matters.

Os armazéns vinícolas Abel Pereira da Fonseca foram ampliados pelo célebre arquiteto Norte Júnior em 1917. A fachada já tem a porta com o “8” que dá cara ao projeto

No que toca à restauração, a primeira abertura é o Restaurante Mato, na quinta-feira, com autoria de José Filipe Rebelo Pinto, curador do 8 Marvila. “A forma como surgiu a visão para este projeto foi muito natural. Pegar num espaço desta dimensão e com a história que tem é um desafio bastante enriquecedor. Olhámos para este espaço e questionámos: ‘o que era isto no passado?’”, explica numa nota enviada à imprensa.

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Na praça central vai haver esplanada, bar e duas food trucks — Oficina e 150  Gramas. Taqueria Paloma, The Pastry Lab e Dear Breakfast são outros dos parceiros confirmados. Os espaços são delimitados pelas próprias adegas de vinho. Entre o comércio, segue-se uma loja de restauro de bicicletas RCICLA, a The Lisbon Frame (focada em fotografia analógica), a Black Mamba e Teddy Hats (ambas de roupa), o estúdio de tatuagens de Elisa Rezende, o design e decoração da Napo Runa, e os vinhos da CUBA Nº 160.

A renovação do novo espaço de cultura e comércio teve em consideração a história de Abel Pereira da Fonseca e a do próprio bairro em que se insere. “Foi sempre uma zona industrial e incorporámos uma linguagem industrial no projeto”, continua. A fachada e o interior, por exemplo, foram requalificados com o reaproveitamento de mais de metade do entulho, madeira, ferro e chapa, incluindo os armários contadores dos armazéns.

O aspeto mantém-se mesmo assim, com traça industrial — resta vê-lo com gente, plantas e negócios a funcionar

A traça industrial, adianta a organização, vai unir-se à vegetação que tomará diversos espaços verdes do 8 Marvila, empreitada liderada pela Planta Livre, parceiro oficial que vai espalhar plantas e flores pelo armazém e que também terá a sua própria loja aberta ao público.

O 8 Marvila também vai ter vários espaços à disposição para a organização de eventos e uma vertente desportiva, que inclui a abertura de nove campos de padel. O “8” que lhe dá o nome quer passar uma mensagem de sustentabilidade e reutilização que se prolonga no tempo — não fosse o “8” o símbolo do infinito.

Infinito não será, no entanto, o próprio projeto. Com um período de vida que terá três a cinco anos, o 8 Marvila promete crescer e dinamizar esta zona da cidade enquanto existir, mas a propriedade privada tem como destino um projeto imobiliário. Até lá, prometem, vão usar os seus espaços como uma montra para uma cidade alternativa e empreendedora.