Em 15 dias, foram libertadas das prisões portuguesas mais de 160 pessoas no âmbito da legislação que estabelece o perdão de penas e amnistia infrações por ocasião da visita do papa Francisco a Portugal, durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). A legislação entrou em vigor no início de setembro.

O número é avançado pela Renascença, que cita o responsável pela Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), Rui Abrunhosa Gonçalves, que admite ter ficado “surpreendido” com o volume de saídas.

“Não contava que saíssem tantos reclusos. Desde o dia 1 de setembro, saíram mais de 160 e tal e eu pensava que saíam uns 50 apenas”, disse. Até ao final do ano, prevê que saiam mais reclusos.

Antes da JMJ, a outra ocasião em que saíram em grande volume reclusos das prisões foi durante a pandemia da Covid-19: nessa altura, 2.155 abandonaram as prisões. Destes, “só 21,6% voltaram ao crime”.

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Foram, também, passadas 960 licenças de saída administrativa extraordinárias, entre as quais “só 123 reclusos viram as saídas revogadas”. “Que conclusões tiramos? Que libertámos quem não representava risco e que, se calhar, essas pessoas podiam ter ficado desde logo em liberdade a cumprir a pena”, defende.

Na mesma entrevista, Rui Abrunhosa Gonçalves afirma que será brevemente que os reclusos terão telefones nas celas, que poderão utilizar a qualquer hora. A medida tinha sido aprovada em Conselho de Ministros em 2022, mas vai “para o terreno o mais rapidamente possível”. “O que faziam no corredor é o que vão fazer na cela, mas com mais privacidade”, adianta.

A lei do Governo que estabelecia o perdão de penas e amnistia de infrações praticadas por jovens a propósito da Jornada Mundial da Juventude abrangia crimes e infrações praticados até 19 de junho por jovens entre 16 e 30 anos, determinando-se um perdão de um ano para todas as penas até oito anos de prisão.

Entre as exceções ao perdão e amnistia estavam quem tivesse praticado crimes de homicídio, infanticídio, violência doméstica, maus-tratos, ofensa à integridade de física grave, mutilação genital feminina, ofensa à integridade física qualificada, casamento forçado, sequestro e crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual. Estavam igualmente excluídos os crimes de extorsão, discriminação e incitamento ao ódio e à violência, tráfico de influência, branqueamento e corrupção.

Rui Abrunhosa Gonçalves, que diz que, nesta altura, há pouco mais de 12.500 reclusos nas prisões, recusa a ideia generalizada de sobrelotação, embora admita que em alguns estabelecimentos isso possa acontecer.

Neste momento, são cerca de 30 mil as pessoas a cumprir pena na comunidade com recurso a penas alternativas.

Cada recluso custa ao Estado 56 euros por dia e, para o diretor-geral da DGRSP, “aqui a economia é importante” e quantas mais pessoas se puder ter fora das prisões mais se poupa: “É multiplicar por 365 dias e depois por 12.500 reclusos, é muito dinheiro”, afirma.

Na primeira entrevista desde que tomou posse, Rui Abrunhosa Gonçalves defende que o Governo deve investir no reforço de guardas prisionais e de profissionais dos centros educativos, sob pena de, daqui a seis anos, não haver gente para trabalhar nestes locais.