Alterações climáticas, desigualdades de género e pobreza. Estes foram os temas centrais do discurso do Presidente do Brasil durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, e os desafios que garante esforçar-se por resolver no seu regresso à presidência. Lula da Silva reservou para a reta final do discurso uma breve menção aos conflitos armados que se multiplicam no mundo, incluindo a guerra que se prolonga há mais de um ano na Ucrânia, numa sessão que contou pela primeira vez com a participação presencial do Presidente Volodymyr Zelensky.

“A guerra na Ucrânia escancara a nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU”, sublinhou durante a sua intervenção, que ultrapassou os estipulados quinze minutos. O Presidente brasileiro disse também que “não haverá sustentabilidade ou prosperidade sem paz”, descrevendo os conflitos armados como uma “afronta à racionalidade humana”.

Ao longo dos últimos meses, a posição de Lula da Silva sobre a guerra na Ucrânia tem gerado várias críticas, com o líder brasileiro a responsabilizar de igual modo os presidentes russo e ucraniano pelo conflito. Lula tem insistido na importância do diálogo com ambas as partes e no discurso desta terça-feira não fugiu ao guião. “Uma solução [de paz] duradoura só pode ser baseada no diálogo. Tenho reiterado que é preciso trabalhar para criar um espaço para negociações. Investe-se muito em armamento e pouco em desenvolvimento”, afirmou.

Lula diz que tanto Putin como Zelensky estão a tentar “ganhar” a guerra “enquanto pessoas estão a morrer” — e nenhum quer paz

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“Conhecemos os horrores e os sofrimento produzidos por todas as guerras. Promover uma cultura de paz é um dever para todos nós e requer persistência e vigilância. É perturbador ver que persistem as antigas disputas não resolvidas e que surgem novas ameaças”, acrescentou. A situação no território ucraniano foi, na verdade, apenas a última referência na longa lista de conflitos que mencionou, desde a crise na Palestina ao conflito no Iémen e no Sudão.

“A ONU foi criada para ser a casa do entendimento e do diálogo. A comunidade internacional precisa de escolher. De um lado está a ampliação dos conflitos e das desigualdades e a erosão do Estado de direito. Do outro, a renovação das instituições multilaterais e dedicadas à promoção da paz”, apontou. Lula aproveitou ainda para deixar farpas às sanções impostas sobre vários países, que considera provocarem grande prejuízo à população e dificultam os processos de mediação, prevenção e resolução pacífica dos conflitos.

O líder brasileiro não terminaria a sua intervenção sem apelar a uma reforma da ONU, em particular do Conselho de Segurança. Para Lula da Silva, este organismo tem vindo a perder progressivamente a sua credibilidade, enquanto os seus membros permanentes “travam guerras não autorizadas em busca de expansão territorial ou de mudança de regime”, numa aparente alusão à Rússia. “A paralisia [do Conselho de Segurança] é a prova mais eloquente da necessidade e urgência de reformá-lo, conferindo-lhe maior representatividade e eficácia”, sublinhou.

O Chefe de Estado brasileiro aproveitou ainda a intervenção para destacar as prioridades na sua agenda, agora que regressou à presidência do Brasil. A sua missão, explicou, é reconstruir uma nação “soberana, justa e sustentável”. Garantiu que o país está comprometido em implementar os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, tendo lançado uma série de iniciativas focadas na redução da pobreza e incerteza alimentar.

Prometeu também lutar contra o femicídio e todas as formas de violência contras as mulheres, bem como lutar pelos direitos da comunidade LGBTQI e de pessoas com deficiências. Sublinhou que, no seu regresso à presidência, o “Brasil está de volta”.