A pedido de alguns construtores germânicos, com destaque para a Porsche, a Alemanha forçou a União Europeia a alterar as regras pré-estabelecidas, aceitando que os automóveis equipados com motores convencionais a combustão fossem equiparados a veículos eléctricos a partir de 2035, desde que queimassem exclusivamente e-fuels. A referência é específica para os combustíveis sintéticos produzidos com carbono capturado na atmosfera e hidrogénio verde, produzido através da electrólise da água.
Agora, o lobby do petróleo e os poucos construtores que pretenderam forçar os e-fuels – exclusivamente porque isto permite reduzir os investimentos e incrementar os lucros –, pretendem que a UE relaxe a regra original ainda mais, aceitando combustíveis sintéticos não tão verdes, como por exemplo os gerados com hidrogénio e carbono extraídos de metano. De acordo com a Transport & Environment, isto permitiria que os e-fuels poluíssem cinco vezes mais do que os veículos eléctricos, se considerássemos exclusivamente as emissões de dióxido de carbono do poço à roda, isto é, ao longo de todo o ciclo, da produção à utilização do combustível, passando pelo transporte, seja ele gasolina ou electricidade.
Estima-se que, em 2035, um veículo eléctrico a bateria que recarregue ligado à rede europeia emita, em média, apenas 13 g de CO2/km, sempre considerando o ciclo do poço à roda. Caso a UE decida relaxar o grau de exigência e permita e-fuels produzidos de forma não sustentável, este combustível sintético passaria a emitir 61 g de CO2/km, o que pressupõe um incremento de quase cinco vezes (4,7 para ser mais preciso) na quantidade de dióxido de carbono lançado para a atmosfera. Mas o lobby do petróleo, em vez de se preocupar com o facto de as emissões de CO2 poderem aumentar 79% com os e-fuels não renováveis, prefere concentrar-se no ganho de 70% face à gasolina convencional, resultante da refinação de petróleo.
A cedência à pressão do Governo alemão, admitindo os e-fuels renováveis, foi um erro grave, uma vez que estes e-fuels podem ser neutros em carbono – na prática, a queima do combustível liberta para atmosfera o carbono que antes tinha sido capturado –, mas isso não os impede de emitir CO2, não contribuindo para reduzir o excesso deste gás na atmosfera. Além de devolver o CO2 ao ar, os e-fuels emitem igualmente NOx (óxidos de azoto), incontestavelmente cancerígenos, a que se juntam o enxofre e as partículas, como em qualquer motor de combustão.
Caso a UE volte a ceder à pressão, permitindo e-fuels produzidos de forma menos amiga do ambiente, exclusivamente para serem mais baratos, a agressão ao ambiente e à saúde aumenta ainda mais, sobretudo para quem habite nas grandes cidades.