As Nações Unidas “estão a dialogar” com o Governo israelita sobre os vistos bloqueados ou negados aos seus funcionários, incluindo o do chefe humanitário da organização, Martin Griffiths, adiantou esta quarta-feira o porta-voz do secretário-geral da ONU.

Stéphane Dujarric desvalorizou esta quarta-feira o anúncio do embaixador israelita na ONU, Gilad Erdan, de que o seu país irá recusar vistos a representantes das Nações Unidas argumentando que “é altura de lhes dar uma lição”. Dujarric afirmou que o anúncio não está a afetar, por enquanto, o trabalho dos funcionários da ONU em Israel.

Falei com os meus colegas em Jerusalém e eles continuam os seus contactos a todos os níveis com os seus homólogos, quer estejam no Governo ou no exército, e os contactos prosseguem normalmente”, disse.

O representante de António Guterres insistiu que não se registou “qualquer alteração ou diminuição do estatuto” dos seus trabalhadores no terreno, em Israel e na Palestina.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No que diz respeito ao estatuto de Griffiths, Dujarric afirmou que este se encontra atualmente em Genebra (a sua residência habitual) e expressou o desejo do secretário-geral de que “tal como qualquer outro gabinete que trabalhe para o secretariado”, “todos os Estados-membros facilitem o trabalho dos funcionários da ONU em deslocação oficial”.

Quanto aos pedidos de demissão de Guterres feitos esta terça-feira pelo embaixador israelita junto da ONU e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Eli Cohen, Dujarric recusou-se a fazer qualquer comentário: o secretário-geral “não vai comentar todos os pedidos de demissão de um Estado-membro”, disse.

Na terça-feira, na abertura de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, António Guterres considerou que “é importante também reconhecer que os ataques do Hamas não aconteceram num vácuo”, acrescentando que “o povo palestiniano tem sido submetido a 56 anos de ocupação sufocante”.

Guterres: ataques do Hamas “não aconteceram do nada”. Povo palestiniano “foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante”

António Guterres defendeu que “as queixas do povo palestiniano não podem justificar os ataques terríveis do Hamas”, assim como “esses ataques terríveis não podem justificar a punição coletiva do povo palestiniano”.

No início da sua intervenção, o secretário-geral da ONU referiu que condena “inequivocamente os atos de terror horríveis e sem precedentes do Hamas em Israel” e disse que “nada pode justificar a morte, os ferimentos e o rapto deliberados de civis — ou o lançamento de foguetes contra alvos civis”.

Na mesma reunião, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Eli Cohen, acusou António Guterres de estar desligado da realidade e de mostrar compreensão pelo ataque do Hamas de 7 de outubro com um “discurso chocante”.

Na rede social X, ex-Twitter, o embaixador israelita na ONU, Gilled Erdan, pediu a demissão imediata de António Guterres das funções de secretário-geral desta organização.

Esta quarta-feira, Gilled Erdan anunciou a decisão de Israel de não conceder vistos a representantes da ONU, numa entrevista à Rádio do Exército israelita.

O Hamas — considerado como um grupo terrorista pela União Europeia (UE) e Estados Unidos, entre outros — lançou um ataque surpresa e sem precedentes a Israel no dia 07 de outubro, que se saldou na morte de mais de 1.400 pessoas, na maioria civis, e na captura de 220 reféns, desencadeando um conflito que cumpre esta quarta-feira o 19.º dia.

Em retaliação, Israel declarou guerra ao Hamas e iniciou uma campanha de bombardeamentos sobre a Faixa de Gaza, território controlado pelo grupo islamita desde 2007, que ainda prosseguem. Também impôs um cerco total ao território com corte de abastecimento de água, combustível e eletricidade.

Os bombardeamentos israelitas sobre Gaza já mataram mais de 6.500 pessoas, dos quais quase metade crianças, e causaram mais de 17.000 feridos, de acordo com o Ministério da Saúde local.