Mário Centeno, depois de ter declarado ao Financial Times que tinha tido um convite do Presidente do primeiro-ministro, o que foi desmentido por Marcelo Rebelo de Sousa, vem agora dar uma nova explicação. Desta vez fê-lo em comunicado no site do Banco de Portugal (que está, apenas, para já na versão portuguesa), para assumir: “É inequívoco que o senhor Presidente da República não me convidou para chefiar o Governo”.
Acrescenta, no entanto, que António Costa o convidou a refletir sobre a possibilidade de o substituir à frente do Governo para juntar a esta frase: “O convite para essa reflexão resultou das conversas que o senhor Primeiro-Ministro teve com o senhor Presidente da República”.
E também assume que “aceitei refletir”, não tendo havido a aceitação. “Não foi possível dirimir neste curto espaço de tempo todas as condições de exercício do que me era solicitado. Desta forma, nunca houve uma aceitação do cargo, mas apenas uma concordância em continuar a reflexão e finalizá-la em função da decisão que o senhor Presidente da República tomaria”.
Este esclarecimento divulgado por volta das 9h43 desta segunda-feira, 13 de novembro, segue-se a uma declaração (a única que Centeno tinha feito até ao momento) ao Financial Times sobre o convite para chefiar o Governo. Ao jornal britânico, influente nos mercados e nos decisores europeus, Centeno tinha declarado, num artigo divulgado domingo ao fim do dia, que “tive um convite do Presidente e do primeiro-ministro para refletir e considerar a possibilidade de liderar o Governo”, acrescentando que “estava muito longe de chegar a uma decisão”. E foram estas palavras ao Financial Times (Centeno não respondeu, antes, a qualquer pergunta colocada pelos jornais nacionais, nomeadamente pelo Observador) que logo levaram Marcelo Rebelo de Sousa a desmentir o governador. Esta segunda-feira, por volta das 10h30 o FT atualizou o artigo indicando que o gabinete de Marcelo tinha desmentido Centeno.
O título do comunicado desta segunda-feira do governador do Banco de Portugal “o governador Mário Centeno confirma que não foi convidado pelo senhor Presidente da República para chefiar o Governo” segue-se ao publicado pela Presidência da República já de madrugada em que não poupava nas palavras: “Presidente da República desmente convite a Governador do Banco de Portugal”.
Um comunicado de apenas duas frases em que Marcelo Rebelo de Sousa desmentia quer o convite a Mário Centeno “antes” de ouvir partidos e Conselho de Estado para chefiar Governo e desmente, também, que “tenha autorizado quem quer que seja a contactar seja quem for para tal efeito, incluindo o Governador do Banco de Portugal”.
“O Presidente da República desmente que tenha convidado quem quer que seja, nomeadamente o Governador do Banco de Portugal, para chefiar o Governo, antes de ter ouvido os partidos políticos com representação parlamentar e o Conselho de Estado, e neste ter tomado a decisão de dissolução da Assembleia da República”.
António Costa, depois de se demitir de primeiro-ministro, tinha assumido, na passada quinta-feira, que tinha sugerido ao Presidente o nome de Mário Centeno para o cargo de primeiro-ministro, sob a maioria absoluta parlamentar socialista: “Ao PS, como referencial de estabilidade no nosso país, competia-lhe apresentar uma solução alternativa, que permitisse poupar ao país meses de paralisação até às eleições. Constava da solução apresentar uma personalidade de forte experiência governativa, respeitado e admirado pela generalidade dos portugueses, com forte prestígio internacional, que é algo muito importante nesta fase tendo em conta o impacto naturalmente negativo que estas notícias tiveram no exterior”. E o indicado “foi precisamente o professor Mário Centeno”.
E, no sábado, na conferência de imprensa que deu para explicar atuação no Governo nos vários projetos que estão a ser investigados, o ainda primeiro-ministro declarou:
“A minha preocupação era habilitar o senhor Presidente da República com uma alternativa a colocar o país a três anos do fim de uma legislatura a dissolver um parlamento e a irmos de novo para um processo eleitoral. O mundo vive num quadro de inúmeras incertezas, conflitos, situação económica e em minha consciência acho que havia a necessidade de encontrar alternativas que fossem alternativas à dissolução da AR. Por isso falei ao senhor Presidente da República e agi com conhecimento do seu Presidente, entendi e creio que não estarei particularmente isolado no meu entendimento que o professor Mário Centeno preenche três requisitos da maior importância: solida experiência governativa; merece o respeito, consideração e admiração da generalidade dos portugueses, mesmo daqueles que não concordem, porventura, com as suas opções; e em terceiro lugar, muito importante, tem reconhecimento e credibilidade internacional e esse é um fator essencial quando nesta semana a notícia de que o primeiro-ministro de Portugal se demitiu associado a um caso de corrupção fez primeira página em muitos jornais estrangeiros”.
Nas explicações que deu ainda acrescentou: “Era importante podermos ter rapidamente um primeiro-ministro, com grande reconhecimento e credibilidade internacional, foi presidente do Eurogrupo e fosse uma mensagem para o mundo de que Portugal tinha encontrado uma solução governativa de probidade, respeito, consideração e elevada competência”.
Dizendo que não gosta de revelar em público conversas particulares, António Costa referiu, ainda, que “quando apresentei a proposta conhecia que o professor Mário Centeno só daria uma resposta definitiva depois de falar com o senhor Presidente, depois de conhecer as condições de governabilidade que tinha e depois de saber se a comissão política do PS também corresponderia à minha resposta, mas o diálogo com o Presidente da República seria obviamente essencial. É sabido que o PR fez outra opção, essas conversas não prosseguiram e naturalmente nunca houve uma resposta definitiva”.
Mário Centeno, no comunicado desta segunda-feira, acompanha Costa, dizendo que “o convite para essa reflexão resultou das conversas que o senhor Primeiro Ministro teve com o senhor Presidente da República”.
Este caso com o governador do Banco de Portugal vai levar a que esta segunda-feira a comissão de ética do Banco de Portugal, nomeada em abril deste ano pelo conselho de administração da instituição, analise a conduta de Mário Centeno, para verificar se está em causa algum desrespeito pelas regras da entidade, nomeadamente a sua independência.
A comissão de ética é liderada por Rui Vilar, tendo mais dois elementos: Rui Leão Martinho e Adelaide Cavaleiro.