É mais uma confirmação de que não há volta a dar, do que propriamente uma surpresa: a BMW não se desvia do rumo e cumpriu o que já tinha anunciado no final de 2020, quando informou que deixaria de produzir, na sua fábrica de Munique, os motores de combustão que tanto entusiasmavam os fãs da marca. A 10 de Novembro, o construtor alemão virou a página e fechou o capítulo de uma história com seis décadas, encerrando de vez o fabrico de motores térmicos na principal instalação fabril da Bayerische Motoren Werke.
O último sopro de vida fóssil a sair da fábrica alemã foi um V8 e, daqui em diante, nada de quatro, seis, oito e doze cilindros. Isso é passado e o futuro da BMW passa pela primeira plataforma projectada de raiz para os veículos eléctricos de nova geração, a Neue Klasse, que também começará a ser produzida em Munique, a partir de 2026.
Este “virar de página” é a antecâmara de uma mudança muito mais profunda, pois todas as fábricas da marca da hélice na Alemanha estão condenadas a sobreviver apenas à conta da produção de modelos exclusivamente eléctricos. É o que está previsto acontecer, desde 2020, para os complexos fabris de Munique, Dingolfing, Regensburg e Leipzig.
O i4 já está a ser fabricado em Munique, enquanto os SUV iX1 e iX2 saem de Regensburg. Já o novo i5, o i7 e o iX são produzidos em Dingolfing. Mas todos estes modelos assentam em plataformas originalmente para motores de combustão e depois adaptadas, o que deixará de fazer sentido a partir do momento em que a Neue Klasse entre em cena, pois, pelo menos teoricamente, uma arquitectura dedicada permite modelos mais eficientes do ponto de vista energético e, até, mais simples e rápidos de produzir. Em contrapartida, é necessário investir na reconversão das fábricas.
Para Munique, o investimento do Grupo BMW para a adaptação da fábrica às novas necessidades orça em 400 milhões de euros e inclui a “reciclagem” dos 1200 trabalhadores, que precisam de adquirir competências na área das motorizações e sistemas eléctricos. Ainda assim, parte destes funcionários poderá ser deslocada para outras áreas.
Com o final dos motores BMW “made in Germany”, a marca bávara fica ainda com duas fábricas a assegurar as suas necessidades de combustão – uma na Áustria, via Magna Steyr, e a outra em Hams Hall, Inglaterra. Enquanto isso, a BMW avança com a construção na Alemanha, em Wackersdorf, de um centro de testes de baterias e outros componentes de sistemas eléctricos. A este investimento, que ronda os 100 milhões de euros, juntar-se-á ainda uma fábrica de onde devem sair 600.000 packs de baterias por ano, que recebeu luz verde por parte dos cidadãos de Straßkirchen, o município onde está previsto a construção dessa “gigafábrica”.