Um relatório oficial sobre o caso das gémeas que foram tratadas em Portugal, com um dos medicamentos mais caros do mundo, indica que foi mesmo o secretário de Estado da Saúde que estava em exercício — no caso, António Lacerda Sales — quem pediu uma consulta para as duas meninas, em janeiro de 2020. O ex-governante diz que não se lembra mas já pediu ao Ministério da Saúde que lhe sejam enviados os documentos relativos a esse período.
A TVI já tinha avançado com notícias sobre o alegado envolvimento de Lacerda Sales, que negara ter intervindo para marcar a consulta garantindo que nenhum secretário de Estado teria esse poder, e que seria “muito mau” que qualquer médico, “no seu compromisso ético, se deixasse influenciar”. Agora, o Expresso noticia que teve acesso ao tal relatório, que inclui a informação escrita no boletim clínico das gémeas pela equipa do Hospital de Santa Maria.
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Ora a resposta de Lacerda Sales ao jornal já não exclui liminarmente que possa ter tido algum envolvimento no processo, dado que entretanto se passaram anos. “Nunca eu podia negar nada sem ter acesso a documentos de há quatro anos e com uma pandemia pelo meio”, diz ao Expresso, acrescentando que precisa de saber se esse pedido foi, de facto, feito por si e através de que “caixa de e-mail é que foi enviado”.
O medicamento em causa custa 1,9 milhões de euros por embalagem e serviria para tratar a atrofia muscular espinhal das duas crianças. O tratamento acabou por ser aprovado numa reunião com a direção de neuropediatria e o diretor clínico do hospital.
Ministério “obviamente” disponível para prestar informação sobre caso das gémeas