A Ferin, histórica livraria na Rua Nova do Almada, em Lisboa, que sobreviveu ao fim da monarquia, à 1ª República e ao incêndio do Chiado, está fechada. A informação é confirmada ao Observador por Joana Pinho, uma das proprietárias, depois de começarem a circular nas redes sociais imagens que mostram as vitrines da loja forradas, impedindo vislumbrar o que se passa no interior.
Ao Observador, Joana Pinho justifica o fecho de portas com a necessidade de fazer um “levantamento de problemas” da livraria, sem especificar quais, mas que, sublinha, já existiriam quando o pai, José Pinho, dono da Ler Devagar e fundador dos festivais literários Folio e Lisboa 5L, que morreu em maio deste ano, comprou o espaço, em novembro de 2016.
[Já saiu: pode ouvir aqui o sexto e último episódio da série em podcast “O Encantador de Ricos”, que conta a história de Pedro Caldeira e de como o maior corretor da Bolsa portuguesa seduziu a alta sociedade. Pode sempre ouvir aqui o quinto episódio e aqui o quarto, o terceiro aqui, o segundo aqui e o primeiro aqui]
A segunda livraria mais antiga da capital foi fundada em 1840 por Jean Batiste Ferin, de origem belga, que se instalou em Lisboa durante as guerras napoleónicas. Em 2016, José Pinho comprou-a para a salvar do encerramento e dar-lhe um novo rumo. “Esta livraria foi comprada por um valor simbólico, mas que tinha atrás dele uma série de dívidas a fornecedores, de encargos com o pessoal, etc., que, se não fosse bem gerida, não teria viabilidade”, disse o livreiro numa entrevista ao Diário de Notícias, em 2020, em que lamentava não ter tomado algumas medidas mais cedo, “acreditando que as vendas iam aumentar e resolver as coisas sem uma reestruturação radical”, lê-se. “Mas não aconteceu, e quando decidiu avançar, chegou a pandemia”, continua o texto.
Joana Pinho não antecipa um desfecho para a livraria Ferin. Diz que o fecho de portas nos últimos dias foi uma necessidade para fazer o “inventário profundo” de problemas, depois de uma tentativa de o fazer de porta aberta, algo que se revelou incomportável.
O último projeto dos vários imaginados pelo livreiro José Pinho foi a Casa do Comum do Bairro Alto — Centro Cultural (CCBA), que inaugurou em outubro, na Rua da Rosa.