O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, garantiu esta quinta-feira que vai reagir “em conformidade” quando houver conclusões da parte da justiça sobre o “caso das gémeas” — que visa alegadas pressões políticas para administrar um dos medicamentos mais caros do mundo a duas gémeas brasileiras cuja família terá chegado ao Governo através de uma suposta intervenção do filho de Marcelo, Nuno Rebelo de Sousa.
Em declarações aos jornalistas ao início da tarde, Marcelo preferiu não comentar a auditoria do hospital de Santa Maria, que fala de uma intervenção do secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, no caso. “Esse documento vai ainda para outras instâncias oficiais. Trata-se da investigação do hospital, que vai ser enviado para o Ministério da Saúde, segue a sua tramitação e provavelmente irá para a PGR”, disse, preferindo não “opinar” sobre o documento “a meio de um processo”.
“Vamos esperar pelo apuramento da realidade”, sublinhou. “Se a realidade apurar que houve em alguma fase qualquer coisa que foi ilegal, seja ilegal da parte de quem exerce funções públicas, seja ilegal da parte de quem é um mero privado, naturalmente aí funciona a justiça.”
Questionado sobre se considera ter de esclarecer algo sobre a atuação do seu filho, Marcelo afirmou que não. “Não tenho de esclarecer nada. Quem tem de esclarecer é quem está a investigar. E depois de investigar ou conclui que há qualquer coisa que se passou bem ou qualquer coisa que se passou mal. Eu reagirei em conformidade”, sublinhou.
Marcelo também destacou que a posição interna da Casa Civil da Presidência da República era uma “posição de princípio” de que deveria haver prioridade a quem era residente em Portugal — mas garantiu não ter conhecimento de qualquer lista de espera de residentes e de não residentes.
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Marcelo desvaloriza queda de popularidade devido ao caso das gémeas. Manter 50% após polémica é “miraculoso”
O Presidente da República desvalorizou também a quebra de popularidade que a polémica das gémeas lhe está a valer.
“Como é evidente ao fim de 8 anos a popularidade é a coisa mais volátil que há na vida”, disse Marcelo Rebelo de Sousa. “Houve os incêndios, a popularidade desceu. Houve Tancos, a popularidade desceu. Houve a especulação sobre o que eu tinha dito sobre abusos sexuais, a popularidade desceu. Houve momentos altos do ponto de vista político, diplomático, subiu.”
No entanto, Marcelo considera que “os portugueses têm sido muito consistentes”.
“Se olhar para as sondagens — valem o que valem — nota-se o seguinte: há um núcleo crítico constante, que anda à volta dos 35%. Há 35% que de facto manifestam desde sempre um juízo crítico em relação ao Presidente”, salientou. “Nos restantes 60% e poucos , há um núcleo duro que anda à volta de 50%, agora está 48%, 49%, 50%, noutras sondagens acima dos 50%. E há um núcleo próximo do núcleo duro que é mais uma dúzia, 12%. Flutuava entre cerca de 50% e 60% e poucos.”
Marcelo garantiu ainda que a flutuação na popularidade não o influencia. “A pessoa não faz política em função de sondagens. O Presidente é eleito para cumprir uma missão e para exercer os poderes que tem de exercer. É óbvio que num momento em que o Presidente da República, num espaço de tempo muito curto, tem de aceitar a demissão de um primeiro-ministro, uma coisa que foi tão repentina para todos nós que isso provoca um choque na opinião pública, dissolve o Parlamento — há quem concorde, há quem não concorde —, dissolve o Parlamento dos Açores — há quem concorde e há quem não concorde —, e é notícia durante para aí dois meses, manhã, tarde, noite, com o desgaste que isso tem… No fim disso tudo andar com um núcleo duro de 50% dos portugueses… é miraculoso.”
Esta quinta-feira, uma sondagem divulgada pelo Diário de Notícias dá conta de que apenas 48% dos inquiridos acredita que Marcelo tem condições para continuar em funções.
Marcelo diz que Costa era o seu preferido no PS e considera que pode presidir ao Conselho Europeu
Marcelo Rebelo de Sousa comentou também a entrevista em que António Costa disse que o Presidente tinha feito uma avaliação “errada” ao dissolver o Parlamento. Dizendo que foi António Costa que decidiu sair com base nas circunstâncias, Marcelo salientou que a sua decisão de dissolver a Assembleia da República “foi uma consequência, não uma causa” da decisão de Costa — que, aliás, era o seu “preferido” para estar no Governo.
Segundo o Presidente da República, não teria sido possível dissuadir António Costa de se demitir: “Como é que se dissuade uma pessoa que tem uma convicção muito profunda, muito profunda de que aquilo é a única saída correta na sua vida? É impossível, é impossível”.
Questionado sobre a perceção de Francisco Assis de que António Costa seria muito útil como presidente do Conselho Europeu, o Presidente da República concordou: “Ah, mas eu não tenho uma dúvida. O primeiro-ministro tem um prestígio europeu excecional, e falando com elementos dos vários grupos políticos europeus, é evidente que ele tem condições para poder vir a ser o próprio presidente do Conselho Europeu, assim ele entenda que tem as condições internas”.
Sobre uma possível candidatura de António Costa a Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa retorquiu: “Tem de perguntar ao doutor António Costa, ele é que tem de escolher o futuro, tendo vários possíveis futuros. Eu não, eu tenho de gerir este futuro imediato de cerca de dois anos”.
“Estão a perguntar-me: e depois dos dois anos, ele seria um bom candidato presidencial? Eu digo: sim, se entretanto não estiver presidente do Conselho Europeu. Se estiver presidente do Conselho Europeu, não pode ser as duas coisas ao mesmo tempo”, completou.
O chefe de Estado não quis comentar a vida interna do PS, salientando que um dos candidatos será líder do PS e poderá vir a ser primeiro-ministro. “O Presidente tem de ser Presidente com qualquer um dos primeiros-ministros”, disse.