José Sócrates chegou esta terça-feira ao Campus de Justiça assegurando que, ao contrário de Pedro Passos Coelho — que disse não saber porque é que foi chamado a depor no caso EDP — sabe “exatamente” o que tem de fazer: “Repor a verdade dos factos e testemunhar a favor de Manuel Pinho”. E aproveitou para lançar umas breves farpas sobre a atualidade política.
Questionado pelos jornalistas sobre as declarações de Pedro Passos Coelho, que também foi chamado a depor, e disse no Campus de Justiça que o Governo de António Costa caiu por ter feito uma “indecente e má figura”, Sócrates disparou: “Poupem-me por favor ao ataque político disfarçado de reflexão. Isso não tem nada a ver com análise, trata-se de ataque político”.
Quanto a quem terá feito, então, “má figura” na crise política que levou ao Governo, sugeriu que “estamos para ver se foi o primeiro-ministro, o Ministério Público ou a oposição. Mas daqui a uns meses saberemos”. E não quis prestar mais declarações sobre a atualidade política.
Passos Coelho diz que António Costa se demitiu “por indecente e má figura”
Quanto ao caso EDP, que o levava a estar ali, Sócrates continuou a defender Manuel Pinho e a defender-se a si próprio: “Nunca ele nem o meu Governo favoreceram o grupo Espírito Santo de nenhuma forma, nunca houve um benefício ilegítimo. Isso é falso”, disparou, enquanto fazia tempo para depor.
E não hesitou em classificar a tese do Ministério Público, que suspeita de que Pinho tenha sido corrompido por Ricardo Salgado, como “um enorme embuste que não tem nenhum fundamento ou sustentação”, e elogiando Pinho, um “ministro muito importante” para o seu Governo e o respetivo “plano de desenvolvimento tecnológico”.
Já à saída, Sócrates mostrou-se muito satisfeito com o seu testemunho, que relatou assim: “Não ficou pedra sob pedra dessa mentirola sobre o doutor Ricardo Salgado”. A “mentira com 12 anos”, ou, como lhe chama também, o “revisionismo histórico idiota”, é a ideia de que era próximo de Ricardo Salgado ou que o seu Governo o favoreceu.
“Toda a gente sabe que Ricardo Salgado tinha amigos na direita, não na esquerda. O GES financiou a campanha de Cavaco Silva — não tem mal nenhum. Passos Coelho era dirigente de uma empresa cujo núcleo de acionistas era GES”. E portanto, defende a sua proximidade de Salgado não passa de um mito promovido pelo Ministério Público: “A ideia de que era próximo de mim é falsa. Nunca tive o telefone de Salgado, nunca fui ao gabinete dele, nunca o conheci antes de ser primeiro-ministro”, alegou, antes de reconhecer que tinha efetivamente conhecido o banqueiro numa reunião enquanto ministro do Ambiente.
O antigo primeiro-ministro assegurou que “claro que não sabia” dos pagamentos do GES a Manuel Pinho, considerando a pergunta dos jornalistas “insultuosa”. “Devia ter feito o quê, servir de polícia?”. E rematou sobre a forma como depôs em tribunal, desmentindo a acusação do MP: “Estou muito contente comigo próprio”.
Quanto ao seu próprio caso, relativamente à Operação Marquês, aproveitou para lançar novos ataques ao Ministério Público, refutando as críticas que lhe são feitas por fazer “manobras dilatórias” que podem resultar em prescrições no processo. “É uma última tentativa” do Ministério Público de dizer: “Sim, perdemos, mas foi na secretaria”, atirou. “Dos dez anos do processo, nove são da inteira responsabilidade do Estado. É injusto perguntarem me sobre manobras dilatórias, isso é uma campanha do Ministério Público”.
Manuel Pinho está a ser julgado por suspeitas de crimes de corrupção e branqueamento de capitais. Segundo o Ministério Público, Manuel Pinho terá alegadamente sido corrompido por Ricardo Salgado, na altura em que era o responsável pela pasta da Economia no Governo de José Sócrates, e terá recebido uma avença mensal de 14.963,94 euros através da sociedade offshore Espírito Santo Enterprises — o conhecido saco azul do Grupo Espírito Santo (GES). No total, o antigo ministro da Economia terá recebido um total de 3,9 milhões de euros do GES.