O secretário-geral do PCP considerou esta terça-feira insuficiente a mensagem de Natal do primeiro-ministro, lamentando que António Costa não tenha reconhecido que “desperdiçou dois anos” com condições políticas e financeiras para melhorar a vida dos portugueses.

À margem de uma visita ao Conselho Português para os Refugiados (CPR), Paulo Raimundo foi questionado sobre a mensagem de Natal de António Costa, divulgada no domingo, na qual manifestou “confiança redobrada” nos portugueses, defendeu que deixou um país melhor ao fim de oito anos de liderança de governos socialistas, embora reconhecendo que ainda há problemas a resolver.

“Não foi suficiente, o que o primeiro-ministro reconheceu é uma evidência: há que aumentar salários, pensões, reforçar os profissionais do Serviço Nacional de Saúde ou responder aos problemas de acesso à habitação”, considerou o secretário-geral do PCP.

O líder comunista lamentou que o primeiro-ministro “não tenha reconhecido um elemento importante: teve dois anos com tudo na mão, em que poderia ter feito muito mais e responder aos problemas que identificou”.

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“A questão central é que o PS, a maioria absoluta do Governo, com condições económicas e financeiras, desperdiçou dois anos das nossas vidas, não abriu nenhum caminho novo e só agravou caminhos velhos”, criticou, considerando que “a palavra confiança, quando é usada muitas vezes, quer dizer o contrário”.

Paulo Raimundo defendeu que as últimas legislativas — em janeiro de 2022, antecipadas devido ao chumbo do Orçamento do Estado também com os votos contra do PCP — só aconteceram porque o Governo e o Partido Socialista entendiam que “havia três áreas que não precisavam de investimento: a saúde, a habitação e as questões dos aumentos dos salários”.

“O primeiro-ministro fez chantagem, pressão e teve maioria absoluta, recursos, excedentes orçamentais e nenhum dos três problemas ficou resolvido, até se agravaram”, exemplificou.

Por isso, o líder comunista considerou que o Governo “não merece essa confiança” de que falou António Costa, apelando ao reforço eleitoral da CDU nas próximas legislativas de 10 de março.

“Ficou acima de tudo por assumir a responsabilidade do ponto de vista político, não se pode dizer que há muita coisa por fazer como se não houvesse responsáveis”, avisou.

O líder do PCP foi ainda questionado se entende que o Presidente da República se deveria demitir devido a uma alegada interferência no tratamento médico de duas gémeas — opinião da maioria dos inquiridos numa sondagem divulgada esta terça-feira pelo Correio da Manhã -, mas considerou que o partido já comentou o caso e não existe “nenhuma novidade”.

“O senhor Presidente da República não precisará de nenhuma sondagem para, se for caso disso, tirar as conclusões que entende”, disse.

Perante a insistência dos jornalistas se considera que Marcelo Rebelo de Sousa deveria ter tirado outras conclusões deste caso, Paulo Raimundo respondeu: “Julgo que não, com os dados que são conhecidos, o Presidente da República tem os dados todos para decidir o que decidiu, neste caso permanecer”.

No entanto, admitiu que, para que todo o caso fique esclarecido politicamente, será necessário aguardar pelos vários inquéritos ainda a decorrer.

Acompanhado pelos ex-deputados Bernardino Soares e João Oliveira — que será cabeça de lista da CDU às eleições europeias de junho —, Paulo Raimundo visitou o Conselho Português para os Refugiados, sem a presença da comunicação social, como é habitual nestes casos.

“Viemos conhecer esta experiência extraordinária e o papel extraordinário do Conselho Português para os Refugiados no acolhimento dos que procuram o nosso país”, disse, elogiando o “empenho e dedicação” dos técnicos desta instituição que acolhe cerca de dois mil casos por ano.