A Rainha da Dinamarca, Margarida II, confirmou este domingo que vai abdicar do trono. O anúncio foi feito durante o discurso anual de Ano Novo, durante o qual a soberana revelou que a sua saída irá acontecer já em janeiro, no dia 14.
Margarida II, que teve um reinado de 52 anos, informou ainda que o seu filho mais velho, o príncipe Frederico da Dinamarca, vai assumir o trono. De acordo com a BBC, não está prevista qualquer cerimónia para a coroação do novo rei.
Depois da morte de Isabel II, no ano passado, Margarida II, que assumiu o trono em 1972, era a monarca europeia há mais tempo em funções. Em fevereiro deste ano sofreu uma cirurgia às costas, situação que está na origem desta decisão.
“A cirurgia naturalmente deu origem a alguma ponderação sobre o futuro, se era chegado o tempo para deixar a responsabilidade para a geração seguinte”, disse a monarca durante a mensagem de Ano Novo transmitida pela televisão dinamarquesa. “Decidi que agora é a altura certa para o fazer. A 14 de janeiro, 52 anos depois de suceder ao meu querido pai, vou abdicar como Rainha da Dinamarca.” O discurso da Rainha pode ser lido na íntegra no site da casa real. Já na página de Instagram, é possível ver uma publicação com a notícia da abdicação de Margarida II ilustrada com uma fotografia da monarca durante o seu discurso.
Para se dirigir aos dinamarqueses com esta mensagem de mudança, a Rainha escolheu vestir-se de roxo e com a pregadeira em forma de margarida com diamantes, que tem um significado pessoal. Foi um presente dos avós maternos da rainha Margarida, à filha, a rainha Ingrid, mãe da atual monarca. A avó chamava-se Margarida de Connaught, a forma da pregadeira deve-se ao seu nome e os diamantes que a compõem eram seus. A então princesa Ingrid estreou a pregadeira no dia do seu casamento com o então príncipe herdeiro da Dinamarca, Frederico. Também a rainha Margarida usou pela primeira vez a peça no dia do seu casamento, mas só a recebeu de presente da sua mãe quando fez 60 anos.
Quando assumiu o trono, a princesa Margarida tinha 31 anos, já estava casada com o príncipe Henrik e já tinham os seus dois filhos. O príncipe Frederico tinha três anos e Joaquim, dois, quando a mãe se tornou rainha da Dinamarca, das Ilhas Faroé e da Gronelândia e comandante-chefe da defesa dinamarquesa. O seu lema era (e ainda é) “A ajuda de Deus, o amor do Povo e a força da Dinamarca”.
Em 1953, através de referendo, ficou decidido que uma mulher poderia ascender ao trono da Dinamarca, caso não tenha irmãos mais velhos ou mais novos. Margarida era a mais velha de três irmãs e quando se tornou rainha foi a primeira monarca mulher em séculos, desde Margarida I, que foi governante dos reinos da Escandinávia entre 1375 e 1412.
Margarida II da Dinamarca: a única rainha do mundo e o atual reinado mais longo
A rainha Margarida casou com o francês Henri Marie Jean André, conde de Laborde de Monpezat, em 1967. O marido ficou conhecido como príncipe Henrik e nunca gostou de estar em segundo plano, porque queria ser rei consorte em vez de príncipe. Nos últimos anos de vida sofreu de demência e morreu a 13 de fevereiro de 2018. Estiveram casados quase 51 anos.
Margrethe Alexandrine Þorhildur Ingrid nasceu no palácio de Amalienborg, em Copenhaga, a 16 de abril de 1940. Filha primogénita do rei Frederico IX e da rainha consorte Ingrid, nascida princesa da Suécia. É a mais velha de três irmãs. Seguiram-se a princesa Benedikte, em 1944, que casou com o príncipe alemão Richard de Sayn-Wittgenstein-Berleburg, que morreu em 2017. Em 1946, nasceu a princesa Ana Maria, que foi casada com o rei Constantino da Grécia, que morreu em janeiro de 2023.
Os últimos dois anos de Margarida no trono, entre a celebração e a polémica
O ano de 2022 arrancou agridoce para a Rainha. Apesar de ser o Jubileu de Ouro do seu reinado a 14 de janeiro, ou seja, completar 50 anos no trono, as celebração foram comprometidas pela pandemia de Covid-19. E quando em setembro desse mesmo ano, a Dinamarca se preparava para voltar a celebrar o jubileu da monarca, a agenda foi novamente contida por causa da morte da Rainha Isabel II, a 8 de setembro. Durante esse ano, Margarida II também já testou positivo ao coronavírus duas vezes (em fevereiro e em setembro).
Durante o referido ano, a casa real dinamarquesa voltaria a ser notícia porque a Rainha decidiu retirar a quatro dos seus oito netos os títulos de príncipes. A partir de 1 de janeiro de 2023, os filhos do seu filho mais novo, o príncipe Joaquim, deixaram de ser príncipes, passaram a usar os títulos de condes e condessa de Monpezat e serão tratados por “Excelências”. Os filhos, noras e netos da Rainha Margarida têm este título desde 2008, explicou a Casa Real no comunicado emitido a 28 de setembro. A decisão da monarca tem como objetivo permitir que os netos possam ter uma vida mais comum, sem as restrições que a coroa impõe. Apesar da alteração de títulos, os descendentes da Rainha mantiveram os seus lugares na linha de sucessão ao trono. A decisão gerou grande polémica e não foi bem aceite na própria família e a Rainha acabou por se desculpar.
Já em 2023, a casa real esteve em celebração pelo 18º aniversário do príncipe Christian, neto de Margarida II e o filho mais velho dos príncipes herdeiros Frederico e Mary. A Rainha foi anfitriã de um jantar de gala no Palácio de Christianborg, para mais de mil convidados. Entre os presentes estiveram vários membros de outras casas reais europeias e quatro herdeiras da geração do aniversariante. Ao príncipe Christian juntaram-se Estelle da Suécia, Ingrid Alexandra da Noruega, Amalia dos Países Baixos e Elisabeth da Bélgica para uma fotografia histórica de alguns dos futuros monarcas da Europa. Casa Real da Dinamarca estendeu a lista de convidados a 200 jovens da Commonwealth dinamarquesa, dois de cada um dos municípios da Dinamarca, Gronelândia e Ilhas Faroé, que puderam selecionar duas pessoas com 18 anos para marcarem presença no evento histórico.
O príncipe viria a protagonizar outro importante momento para a monarquia ao assinar a solene declaração de cumprimento da Constituição a 14 de novembro. Contudo, o acontecimento teve lugar numa altura em que os pais do príncipe estavam envolvidos numa polémica. O príncipe Frederico foi fotografado com Genoveva Casanova, uma ex-nora da duquesa de Alba, a passear pelas ruas de Madrid. As imagens começaram por ser capa de uma revista do universo social espanhola e rapidamente se espalharam. A notícia rebentou em plena visita de estado dos reis de Espanha à Dinamarca, no passado mês de novembro. O caso deu muito que falar e obrigou a casa real dinamarquesa a reagir através de um comunicado de imprensa. “Mantemos uma política há anos de não comentar nem confirmar qualquer detalhe relacionado com assuntos privados. Além disso, gostaríamos de destacar o nosso compromisso de respeitar a privacidade dos membros da família real, incluindo o príncipe herdeiro”, podia ler-se.
Frederico e Mary, os próximos reis da Dinamarca
O príncipe Frederik André Henrik Christian nasceu a 26 de maio de 1968. Licenciou-se em ciência política na universidade da cidade dinamarquesa de Aarhus, e continuou a estudar na mesma área em Harvard, nos Estados Unidos da América. Trabalhou na missão dinamarquesa nas Nações Unidas, em Nova Iorque, em 1994, e na embaixada dinamarquesa em Paris, entre 1998 e 1999. Frederico tem um irmão mais novo, o príncipe Joaquim Holger Waldemar Christian, que nasceu a 7 de junho de 1969.
Mary Elizabeth nasceu em Hobart, a capital da ilha australiana da Tasmânia, a 5 de fevereiro de 1972. O pai, John Dalgleish Donaldson, é um escocês professor de matemática aplicada e casou-se com a mãe de Mary, Henrietta Clark Donaldson, em 1963, ano em que ambos emigraram para a Austrália. A mãe da princesa era assistente executiva do vice-reitor da universidade da Tasmânia e morreu em 1997 quando a filha tinha 25 anos. O pai voltou a casar com uma autora britânica. Mary tem duas irmãs e um irmão, todos mais velhos. É licenciada em direito e comércio e tem certificados na área. Trabalhou em agências de publicidade em Melbourne, Edimburgo e, em Sydney. Antes de se instalar na Dinamarca, onde chegou a trabalhar na Microsoft, esteve a dar aulas de inglês em Paris.
Mary Donaldson e o príncipe Frederico da Dinamarca conheceram-se no ano 2000, em Sydney, durante os Jogos Olímpicos que tiveram lugar naquele ano na Austrália. O herdeiro do trono dinamarquês tinha ido apoiar a equipa de vela e foi certa vez ao pub Slip Inn, integrado numa verdadeira comitiva real que contava também com o irmão, o príncipe Joaquim, o primo príncipe Nikolaos da Grécia e o príncipe Felipe de Espanha. Naquele pub estava também a jovem Mary, que na altura estava a trabalhar na zona de Nova Gales do Sul. Frederico pediu o número de telefone de Mary e, ao que parece, esta não sabia que ele era um membro da realeza.
Os dois mantiveram uma relação à distância durante meses e em 2001 Mary mudou-se para a Dinamarca, mas o namoro só se tornou público dois anos mais tarde. Depois de quatro anos de namoro, o casamento do herdeiro do trono aconteceu a 14 de maio de 2004. Com um vestido de noiva desenhado por Uffe Frank e uma tiara de diamantes oferecida pelos futuros sogros, Mary Donaldson entrou na Catedral de Copenhaga para se tornar princesa herdeira da Dinamarca e foi recebida por um noivo em lágrimas e perante a realeza internacional em peso. No ano seguinte nasceu o primogénito, o príncipe Christian, em 2007 nasceu a princesa Isabella e em 2011 nasceram os dois gémeos, Vincent e Josephine.
Em 2019 a Rainha Margarida fez da princesa Mary sua regente. Nunca antes tinha sido nomeada para esta função uma pessoa que não fosse descendente direto da família real. Na Dinamarca a monarca deve ter sempre um regente, caso não possa desempenhar as suas funções. A soberana já tinha três regentes, o príncipe Frederico (filho mais velho e o herdeiro); o filho mais novo, o príncipe Joaquim; e a irmã, princesa Benedikte. Uma vez que os dois últimos vivem, respetivamente, em Paris e na Alemanha, a Rainha decidiu nomear também a princesa Mary para o cargo. A princesa tem uma fundação, a Mary Foundation, que se dedica ao combate ao isolamento social. A princesa é também patrona do fundo para a população das Nações Unidas (UNFPA).