O líder da junta militar no poder em Myanmar (antiga Birmânia) recebeu o enviado da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), anunciou esta quinta-feira a imprensa estatal, numa altura em que o país vive uma espiral de violência.

O chefe do Exército, general Min Aung Hlaing, reuniu-se com Alounkeo Kittikhoun, enviado especial da ASEAN, na quarta-feira em Naypyidaw, a capital construída pela junta militar no interior da selva birmanesa.

Os dois dirigentes discutiram os “esforços do governo para garantir a paz e a estabilidade”, informou o jornal estatal The New Global Light of Myanmar.

O golpe militar de 1 de fevereiro de 2021 mergulhou Myanmar numa profunda crise política, social e económica e abriu uma espiral de violência com novas milícias civis que exacerbaram a guerra de guerrilha, que o país já vivia há décadas.

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Uma coligação de grupos armados étnicos lançou uma ofensiva no norte do país em outubro, tendo conseguido tomar várias posições militares e controlar áreas do estado de Kachin, junto à fronteira com a China.

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O encontro de quarta-feira antecedeu a reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da ASEAN, que se realiza no final do mês no Laos, país que este ano detém a presidência da organização.

Até agora, a ASEAN não conseguiu fazer progressos substanciais na resolução do conflito em Myanmar.

Um plano de paz de cinco pontos acordado há três anos não passou do papel, embora a Indonésia, que detinha a presidência, tenha saudado conversações “positivas” com as principais partes do conflito em novembro.

A junta de Myanmar foi representada por “interlocutores”, de acordo com um comunicado divulgado na altura, uma vez que os líderes do regime militar estão excluídos das reuniões de alto nível da ASEAN.

Os atritos entre os membros da ASEAN pioraram no ano passado, após a decisão do então governo tailandês de se reunir com o ministro dos Negócios Estrangeiros da junta, Than Shwe.

O Camboja enviou um jovem funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros para o encontro, enquanto a China, que há muito apoia a junta militar, enviou Deng Xijun, o enviado especial chinês para os assuntos asiáticos.

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A Indonésia e a Malásia, entre os mais duros críticos da junta militar no seio da ASEAN, protestaram veementemente, e Singapura disse que era prematuro envolver-se com o regime de Myanmar a um nível tão elevado.

Pelo menos 4.331 pessoas, incluindo ativistas pró-democracia e civis, morreram devido à repressão da junta militar, enquanto outras 19.911 foram detidas por razões políticas desde o golpe, segundo dados da organização não-governamental birmanesa Associação para a Assistência de Presos Políticos.

A ativista e prémio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi foi conselheira de estado de Myanmar de 2016 até 2021, quando foi deposta pelo golpe militar. Suu Kyi está presa desde que os militares assumiram o poder e cumpre atualmente uma pena de 27 anos.

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Myanmar tornou-se independente do Reino Unido em 4 de janeiro de 1948, mas desde então tem sofrido conflitos étnicos e esteve sob regime militar durante a maior parte de história recente, entre 1962 e 2011 e desde 2021.